terça-feira, novembro 05, 2013

ARTE DOS PORTUGUESES PELO MUNDO POR PROFESSOR PEDRO DIAS [CURSO LIVRE] LIVRARIA MINERVA GALERIA [COIMBRA]




CURSO LIVRE: ARTE DOS PORTUGUESES NO MUNDO
Livraria Minerva Galeria
Rua de Macau, nº 10 (Bairro Norton de Matos) Coimbra
Professor: PEDRO DIAS
8 módulos de 2 horas:
20, 21, 27 e 28 de Novembro e 4, 5, 11 e 12 de Dezembro,das 21 às 23 horas
Inscrições na Livraria Minerva (100 €) A PARTIR DE 4ª FEIRA, 06/12/2013

Será passado um certificado de frequência do Curso

Este curso livre, aberto a todos os interessados, independente da sua especialização ou graduação académica, terá a duração de 16 horas lectivas e será subdividido 8 unidades de duas horas cada, ao longo de quatro semanas. As sessões terão carácter expositivo, havendo sempre lugar para a participação dos alunos, através de questões, comentários, pedidos de esclarecimentos ou discussão de qualquer tema em particular ou mais aprofundadamente.




1. PORTUGAL AO TEMPO DA GÉNESE DA EXPANSÃO PORTUGUESA E A CONQUISTA DO NORTE DE ÁFRICA

Portugal ocupa uma posição privilegiada na geografia europeia e do Atlântico Norte, local de passagem e de contacto dos povos do Mediterrâneo, ao longo de milénios. No extremo Sudoeste da Europa, a escassas horas de navegação da Costa do Magreb, mesmo com embarcações rudimentares, foi um local de interacção cultural e civilizacional. Depois de ter o seu actual território fortemente romanizado e, depois, cristianizado, a génese do Reino ganhou autonomia do século XII, vindo em apenas um século a conformar o país moderno. Tamponado por Castela, a Norte e a Leste, sem possibilidade de expansão territorial ou de contactos directos com outros povos que não fosse por mar, naturalmente que desenvolveu as artes da Marinharia, o que veio a ser decisivo para o arranque da Expansão Marítima e dos Descobrimentos, nos alvores do século XV, depois de algumas expedições esporádicas, como a realizada às Canárias, ainda em 1341 A pesca e o transporte marítimo, sobretudo para o Norte – Biscaia, França, Flandres, Países Baixos e Inglaterra – criaram em Lisboa e em muitos outros portos, de Viana a Lagos e Tavira, centros de desenvolvimento e repercussão dos conhecimentos sobre o mar, as embarcações, os instrumentos náuticos e a Geografia das terras próximas.
É esse Portugal quatrocentista, as suas características geográficas, demográficas, económicas, sociais e também o pensamento estratégico dos seus dirigentes, que iremos analisar neste primeiro ponto, tendo como base a “cinco razões do Infante” , infante D. Henrique, naturalmente, sobre as quais dissertou Gomes Eanes de Zurara.
O Norte de África e particularmente a região do actual Reino de Marrocos, a que agora nos interessa, fez parte do Império Romano, tal como Portugal, sendo totalmente cristianizada, a partir do século IV. A expansão islâmica integrou o Garb no seu vasto Império e, foi de lá, que em 711 os islamitas passaram o Estreito de Gibraltar, para conquistar a Península Ibérica, excepto a região das Astúrias, e chegar além-Pirinéus, até Poitiers. O domínio do Estreito era essencial, para garantir a segurança das navegações atlânticas, fechando a passagem aos piratas mouros que constantemente também assolavam a nossa costa. Ceuta era um objectivo apetecível, pois pensava-se que, como centro comercial, poderia ser um fornecedor de trigo a Portugal, onde ele era sempre pouco. Em 1415, uma armada portuguesa comandada por D. João I realizou a reconquista cristã da cidade e, em cerca de 100 anos, os domínios portugueses chegavam a Santa Cruz de Cabo de Gue. Em muitas cidades deixámos importantes testemunhos da nossa presença: Ceuta, Alcácer Ceguer, Tânger, Arzila, Azamor, Mazagão, Safi, etc. São esses testemunhos de arquitecturas civil, religiosa e militar, góticas e renascentistas, além de peças de escultura, por exemplo, que analisaremos neste módulo. A última praça que deixámos foi Mazagão, já em 1759.

2. AS ILHAS ATLÂNTICAS DOS AÇORES, MADEIRA E CABO VERDE

As navegações em mar aberto, no Atlântico Norte, começaram cedo, dado que estavam intimamente ligadas às pescas. No entanto, foi já dentro de um plano bem estruturado, e com o infante D. Henrique a dirigi-lo, que os portugueses descobriram as primeiras ilhas; em 1418, Porto Santo; a Madeira, antes de 1425; o início do povoamento dos Açores deu-se em 1439; e Cabo Verde, em 1460. Ao mesmo tempo, ia sendo feito o reconhecimento da Costa Africana, estando descoberta a orla marítima, pelo menos até à Gâmbia, nesse ano em que morreu o infante D. Henrique.
Estas ilhas não tinham habitantes, e os portugueses e outros europeus e mesmo africanos que para lá foram viver tiveram que construir povoações à maneira do Reino e importar obras de arte e artificinais, para uso quotidiano ou para o culto divino. Foi extremamente importante mais até na Madeira do que nos Açores, a importação de pinturas, esculturas e alfaias de culto da Flandres, conservando-se um excepcional conjunto no arquipélago madeirense. Com o passar dos tempos, cada arquipélago e, dentro destes, até algumas ilhas, ganharam características peculiares, o que se reflectiu na produção artística. De qualquer modo, estamos sempre em presença de tansferências estéticas ou de importação de obras de arte móveis, quer do Reino quer de outros países da Europa e, a partir do século XVI, do Oriente.

3. A COSTA OCIDENTAL AFRICANA 

A presença na Costa Ocidental da África, e neste caso referimo-nos à África Sub-Saariana, é fruto de um longo percurso que se intensificou a partir de 1434, quando Gil Eanes passou pela primeira vez o Cabo Bojador, e que terminou com a dobragem do Cabo da Boa Esperança, por Bartolomeu Dias, em 1487, entrando assim no Oceano Índico os navios europeus que abriram caminho à futura Carreira da Índia. A primeira posição verdadeiramente importante foi Arguim, uma feitoria situada numa ilhota da actual Mauritânea, que começou em 1445, mas outros pontos fortificados foram sendo construídos, sobretudo o castelo de São Jorge da Mina, em 1482, no actual Gana, e que seria a principal escápula de mercadorias até ao fim do século XVI, estendendo-se daqui por todo o importante Reino do Benim. Mais tarde, os portugueses instalaram-se nos Rios da Guiné e nos reinos do Congo e de N’gola, junto dos reis locais, sendo Santo António do Zaire elevada à categoria de sede de Diocese. A futura ocupação de Angola, com outras povoações importantes, como Massangano e Benguela, mais a Sul, têm origem neste movimento, se bem que uma ocupação territorial consistente só tenha tido lugar no século XIX.
A presença de comerciantes portugueses potenciou o desenvolvimento de diversas artes tradicionais, sobretudo no Golfo da Guiné, particularmente em marfim, mas houve também importantes construções de carácter militar, civil e religioso, bem como a abertura de estruturas viárias em algumas futuras cidades, como São Paulo de Luanda, que ainda hoje são detectáveis.

4. O BRASIL

O reconhecimento oficial do território que conformaria o futuro Brasil ocorreu em 1500, quando a armada de Pedro Álvares Cabral, que se dirigia para Cochim, se desviou mais para Oeste. A ocupação do território não foi imediata e, só na década de 30 do século XVI, se iniciou, posto que de forma tímida. É conhecida bem toda a história da colonização portuguesa nas capitanias e, depois, do Estado do Brasil, ocupação que implicou a criação de um grande sistema defensivo e, naturalmente, levou também ao aparecimento de importantes núcleos urbanos. O desenvolvimento do Brasil não foi contínuo nem homogéneo, variando consoante os ciclos económicos, ou seja, segundo o maior ou menor interesse por determinados produtos, fosse a madeira, o açúcar, o gado, o ouro e as pedras preciosas ou o café, por exemplo. 
Neste ponto do nosso programa, iremos apenas referir um aspecto, o da arquitectura, dada a dimensão da matéria que poderíamos abordar, em todas as outras disciplinas. Veremos as principais fortificações e os maiores e mais bem conservados núcleos urbanos, com destaque para o Nordeste e para Minas Gerais, dando ênfase a alguns edifícios que sobressaem pelas suas dimensões ou nível artístico. Estudaremos com mais pormenor as questões das transferências estéticas e também de alguns particularismos que se desenvolveram em certas regiões.

5. A COSTA ORIENTAL AFRICANA E O GOLFO PÉRSICO

As primeiras viagens à Costa Oriental de África começaram logo com a expedição fundadora de Vasco da Gama, em 1498, embora dela mais não tenham resultado contactos diplomáticos, reconhecimentos mútuos e trocas de presentes, isto para entrarmos no campo artístico. No entanto, de imediato, os portugueses estabeleceram-se em Quíloa, Sofala e na Ilha de Moçambique e, posto que abandonando a moderna Kilwa rapidamente, os outros dois pontos desenvolveram-se e tornaram-se os principais pontos de apoio às nossas navegações e escápulas de comércio, fazendo-se fortificações e cidades. O mesmo aconteceu, pouco depois, com Mombaça., Quelimane, o Ibo, etc. No entanto, a ocupação generalizada e efectiva do que é hoje o moderno Estado de Moçambique só viria a ocorrer em pleno século XVIII. De qualquer modo, o património construído moçambicano é um dos pontos mais salientes deste nosso capítulo.
Mais a Norte, ao longo da costa, os portugueses ocuparam um verdadeiro rosário de pontos estratégicos, como Ormuz, Mascate, Soar, não esquecendo outras fortalezas menores, como Matara, Keshm, Larak, etc. etc, no Irão e em Omã, e também o Bahrein, onde podemos ainda admirá-las, apesar de acrescentamentos e modificações posteriores, Assim, este ponto do programa será dedicado, fundamentalmente, à arquitectura, e dentro dela à militar, embora as artes decorativas e a influência da Índia Portuguesa seja abordada, sobretudo ao tratarmos da Ilha de Moçambique.

6. A ÍNDIA

No Oriente, é a Índia que conserva mais património artístico de origem portuguesa, e em todas as disciplinas. No entanto, o urbanismo e as arquitecturas não se encontram espalhadas uniformemente pelo território deste sub-continente,antes concentram-se nas regiões costeiras, a Leste, nos aros de Goa e Cochim, e na Província do Norte, entre Chaúl e Diu. Se o património arquitectónico é impressionante, até pela quantidade de igrejas e fortificações existentes, alem do seu apego aos modelos europeus matizado pela decoração de raiz indiana, as artes decorativas atingiram um enorme desenvolvimento, sobretudo para exportação, e até em regiões que os portugueses nunca dominaram, como as terras do Império Mogol. Os períodos áureos de fabrico de mobiliário, joalharia, ourivesaria e prataria, e de escultura em marfim, por exemplo, decorreu nos séculos XVI e XVII, mas os séculos seguintes foram também fecundos, na pintura, nas artes dos tecidos, na escultura em pedra e em madeira, etc. Estas obras de arte indo-portuguesas foram muito apreciadas na Europa, sobretudo as que fabricadas com materiais preciosos, como a tartaruga, a madrepérola, o cristal de rocha e o marfim, e também madeiras raras, como o ébano.
Embora os portugueses tenham chegado à Índia em 1498, uma armada comandada pelo futuro vice-rei e almirante Vasco da Gama, as primeiras construções de origem lusa iniciaram-se em 1503, com a edificação da feitoria de Cochim, e terminaram em 1961, com a inauguração da escola primária de Taleigão. Será apenas à arquitectura que dedicaremos este ponto, dado o gigantismo do tema. Permite-nos esta selecção ver com mais atenção a evolução estética, ao longo de mais de 450 anos, e também a maneira como o modo europeu foi adaptado ao clima, aos materiais disponíveis e soube conjugar uma decoração com clara influência hindu.

7. O CEILÃO E O EXTREMO ORIENTE

Os portugueses chegaram ao Ceilão, em 1506, e completaram a sua expansão pelo Extremo Oriente, em 1543, com a primeira incursão no Arquipélago Nipónico. Entretanto, estabeleceram-se em Malaca, Ayuthaya, no Delta do Rio das Pérolas e nas Molucas, deixando rasto da sua passagem por toda a parte. Também aqui deixaram testemunhos em edificações ou mesmo cidades inteiras, e influenciaram as artes decorativas e iconográficas. É nesta parte do Mundo que menos património construído subsiste, mas ainda assim são importantes os edifícios de raiz portuguesa em Malaca e na China e, mais recentes embora, em Timor. Se no Ceilão tivemos diversas fortificações importantes, certo é que, no século XVII e no século XVIII, foram substituídas por outras, holandesas e britânicas, desaparecendo as nossas. Em Malaca, ainda temos vestígios da fortaleza, igrejas e toda a cidade antiga, excepcionalmente preservada, tal como estava em 1641. Macau é um caso à parte, pois a administração lusa prolongou-se até 1999, sendo por isso importantes os testemunhos arquitectónicos e urbanísticos, mas, já no resto da China e no Japão, a influência portuguesa deu-se sobretudo nas artes decorativas, devendo destacar-se a arte namban ou luso-japonesa, de um brilho excepcional e de uma qualidade plástica acima do que foi habitual noutros pontos da Ásia. São estes temas que veremos, ainda que muito brevemente, com relevo para os objectos artísticos e para as questões iconográficas.

8. O REFLEXO DOS DESCOBRIMENTOS NAS ARTES DO REINO

Um movimento de tamanha envergadura como foi o dos Descobrimentos e da Expansão planetária dos portugueses, durante os séculos XV e seguintes, tinha forçosamente de deixar marcas profundas no próprio Reino; e o campo artístico não foi excepção. É certo que Portugal se ressentiu da sua diáspora, na demografia, por exemplo, mas as navegações obrigaram a criar saberes, técnicas e, a montante, indústrias e actividades agro-pecuárias que marcaram o nosso fácies para sempre. Um dos primeiros reflexos da Expansão Ultramarina foi a quantidade de construções religiosas e civis que se ergueram, fruto dos proventos do comércio de longo curso ou de promessas feitas em momentos difíceis, no mar ou além-mar. Outro prende-se com a manifestação da riqueza angariada em terras longínquas; mais ainda, o enorme acervo de obras africanas, americanas e asiáticas que encheram as casas dos mais abastados e os palácios dos reis de Portugal. Mas a influência de além-mar viu-se também na produção iconográfica, das iluminuras aos azulejos e tecidos e, sobretudo, à cerâmica vidrada de fabrico lisboeta. 
Com a Expansão Marítima a paisagem portuguesa mudou, com a introdução de novas plantas, de novos animais que se viam entre elas, mas também nas vilas e cidades que cresceram graças aos cabedais de burgueses, nobres e até populares. Foi um pais novo que surgiu, uma moldura que enquadrava também gentes das mais variadas etnias que chegavam dos confins da África ou do Oriente. Lisboa, a grande metrópole do Ocidente europeu foi também o ponto de difusão dos tesouros dessas “terras de promissom”, que enriqueceriam as câmaras de maravilhas da realeza e nobreza europeias.

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