sábado, setembro 21, 2013

«A PAZ DA FÉ» DE NICOLAU DE CUSA, COM TRADUÇÃO E INTRODUÇÂO DE JOÃO MARIA ANDRÉ [ DIA INTERNACIONAL DA PAZ ]


Assinala-se hoje " O Dia Internacional da Paz ". É um iniciativa a nível mundial, tendo sido estabelecido este dia  pelas Nações Unidas em 1981. 
A primeira celebração da data ocorreu em Setembro de 1982.
Em 2002, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou oficialmente o dia 21 de Setembro como o Dia Internacional da Paz.
A comemoração tem como objectivo levar as pessoas a sensibilizaram-se para a necessidade da paz no mundo e para promoverem actos que tenham como resultado o fim dos conflitos entre povos e a consagração da paz mundial.

No âmbito deste dia sugerimos a leitura  de «A PAZ DA FÉ» de Nicolau de Cusa (MinervaCoimbra). Já em 1455 Nicolau de Cusa apelava à concórdia entre os povos pela força da palavra.

«A PAZ DA FÉ SEGUIDA DE CARTA A JOÃO DE SEGÓVIA» de Nicolau de Cusa com tradução e introdução de João Maria André

Este livro aborda as condições da paz da fé na troca de correspondência entre Nicolau de Cusa e João de Segóvia acerca dos caminhos possíveis para a situação que lhes era dado viver. Um apelo à paz pela força da palavra.      

NICOLAU DE CUSA E A FORÇA DA PALAVRA
                                    por   JOÃO MARIA ANDRÉ

«[...] São tempos conturbados aqueles que vivemos. Hoje como há seis  séculos atrás, acendem-se as paixões nos conflitos dos homens entre si e dos povos uns contra os outros, tendo como base os mais diversificados motivos e interesses: económicos, políticos, étnicos, religiosos e culturais. E também hoje, como há seis séculos atrás, apenas duas vias parecem abrir-se para a superação desses conflitos: a via do diálogo ou a via da violência, ou seja, a força da palavra ou a força das armas...(...)

É também essa uma das heranças do grande pensador alemão do século XV que agora mobiliza a nossa atenção, sobretudo quando afirma na sua carta
a João de Segóvia, que “se com a invasão armada escolhermos a
agressão, deveremos temer que se lutarmos com as armas, pelas armas
morreremos”. Todos os esforços de Nicolau de Cusa postulam no
contexto do seu pensamento profundamente dialógico, o recurso à força da palavra e não propriamente à força das armas. [...]»
                                                      

Nicolau de Cusa

(1401-1464) nasceu em Krebs/Cusa, na atual Alemanha. Filho de um abastado barqueiro do rio Mosela, teve uma educação cuidada em Heidelberg e Pádua, estudando filosofia, matemática e direito. Estudou depois teologia em Colónia. Entrado na vida eclesiástica, participou em discussões conciliares e desempenhou diversas missões diplomáticas. Em 1448 é nomeado cardeal de S. Pietro in Vincoli e em 1450 bispo de Bressanone/Brixen. Ao longo da sua atividade eclesiástica e diplomática manteve sempre o mesmo interesse pelo saber e pela busca de manuscritos de autores menos lidos, muitos dos quais de tradição hermética e neoplatónica ainda se conservam com as suas anotações na biblioteca do asilo que fundou em Bernkastel-Kues. A sua extensa obra é marcada pela exploração original de ideias filosóficas, matemáticas e cosmológicas que então marcavam o renascimento do pensamento, das artes e das ciências. No diálogo O não-outro, considerado um dos mais densos, profundos e especulativos textos de Nicolau de Cusa, cruzam-se algumas das suas principais intuições metafísicas na tentativa de compreender o absoluto, numa orientação platónica, afirmando e negando dialeticamente a identidade e a diferença, a relação entre o criador e as criaturas, o infinito e o finito, o uno e o múltiplo, a transcendência e a imanência. A obra, centrada na questão dos nomes divinos, mostra-nos a mestria dialética de Nicolau de Cusa no apogeu do seu pensamento, simultaneamente místico e filosófico. Morreu em 1464, tendo à cabeceira o seu médico, o português Fernando Martins, interlocutor do diálogo O não-outro.

João Maria André
é Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo-se doutorado em Filosofia pela mesma Faculdade com uma dissertação  sobre Nicolau de Cusa. Ensina nas áreas de Filosofia e do Teatro.  É Director do Departamento de História, Arqueologia e Artes. Actua na área da filosofia, ética e Religião.
Traduziu ainda para português várias obras de Nicolau de Cusa. Além de docente e investigador, tem desenvolvido também a sua actividade como animador cultural, nomeadamente através da tradução, dramaturgia e encenação na Cooperativa Bonifrates de Coimbra e no Teatro Académico de Gil Vicente, de que foi Director de 2001 a 2005. 
Sobre Nicolau de Cusa editou e publicou obras coletivas, artigos e capítulos, em Portugal e no estrangeiro. É membro do Wissenschaftliches Beirat da Sociedade Cusana. Tem publicado também sobre o pensamento renascentista, o teatro e as questões da interculturalidade e globalização.

É autor, entre outros, dos livros:                                                               * Renascimento e Modernidade - do poder da magia à magia do poder, MinervaCoimbra, Coimbra, 2002;
* Sentido simbolismo e interpretação no discurso filosófico de Nicolau de Cusa, ed. FCG-JNICT, Lisboa 1997
* Pensamento e afectividade, Diálogo intercultural, utopia e mestiçagens em tempos de globalização
Para português traduziu  outras três obras de Nicolau de Cusa: 
 A visão de Deus, Lisboa 2012, 4ª ed.; A douta ignorância, Lisboa 2012, 3ª ed. e A paz da fé, seguida de Carta a João de Segóvia, MinervaCoimbra 2002. 

No campo da poesia publicou Rostos suspensos, e Estilhaços em poemas

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