Convite
Lançamento do livro "Mundandar" de António Augusto Menano.
Apresentação por António Pedro Pita, Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Biblioteca Municipal Santos Rocha, R. Calouste Gulbenkian 70.
Capa de autoria de Rebeca Lacerda Quinteiro.
Sobre o livro:
“INSTANTES PERENES”
«Mundandar», este mais recente livro
de António Augusto
Menano, é uma obra que,
de certa maneira, já estava prometida aos
seus leitores.
Desde a publicação, em «Tempo
vivo» (1963), de um breve ciclo intitulado “Viagens”, a temática instalou-se
no centro deste itinerário poético. Desenvolveu-se, depois, num duplo registo: a viagem que existe em mim,
uma viagem que eu sou,o trabalho que o indivíduo
precisa de fazer sobre si próprio para se tornar,
finalmente, o que é; e uma outra viagem que precisa
(ou requer) que essa construção de subjetividade ocorra pela mediação efetiva
das diferenças (geográficas, culturais, sociais) que só o direto conhecimento do mundo pode
proporcionar.
Com a sua fixação em Macau, onde viveu entre 1988 e 1992, e de onde de certo modo nunca regressou, António Augusto
Menano alargou extensamente a sua geografia afetiva. Disso foi dando
conta na poesia de
«Poemas
do Oriente», 1991, «Poemas de Macau», 2007 e «Poemas da Roxa Aurora», 2009 e, na ficção, em «Inominável Segredo», 1993, «Qual o Começo de Tudo Isto?»,
1996 e «A Guardiã», 2000.
Sem esquecer “Sinais da Cultura Portuguesa no
Oriente”, publicado em 2017, uma longa e informada,
fragmentada e apaixonada revisão dos modos de presença da história e da cultura portuguesas no Oriente, revisão
pelo recurso a “sinais”,
que, para cintilarem expressivamente, necessitam mais do olhar do poeta que
da atenção do historiador ou do antropólogo.
«Mundandar» é o atlas poético-afetivo
do percurso de António Augusto Menano. Sem dúvida,
naquele sentido em que assinala
lugares de eleição, percursos, aventuras, cumplicidades em muitas
latitudes e longitudes – os lugares que os viajantes gostam de dizer
que conhecem. Mas, acima de tudo,
nesse outro sentido
concentrado na epígrafe
de Paul Valéry:
“Há em nós algo de semelhante ao que nos ultrapassa”.
Nos
seus melhores momentos – e há nesta obra poemas particularmente belos,
intensos, comoventes –, «Mundandar” é o atlas ou a crónica ou fulguração do
que, em certas circunstâncias (que se tornam “instantes perenes”), revela
o que há em cada um de semelhante ao que o ultrapassa.
Essa revelação não
seria possível sem
a viagem.
Por
isso, desde os seus inícios obsessivamente sintonizado com várias modalidades
da viagem, isto é: da alteridade, o percurso literário de António Augusto
Menano há muito trazia em si, como possibilidade iminente, o livro agora
editado.
Poemas
de viagens ou de viagem? Certamente. Mas, sobretudo, fragmentos (porque só há
fragmentos), iluminações dessa funda experiência existencial que é viver
(n)aquilo mesmo que nos ultrapassa.
ANTÓNIO PEDRO PITA
ANTÓNIO AUGUSTO MENANO
Personalidade incontornável da Figueira da Foz, de
Portugal e mesmo além fronteiras, António Augusto Menano, tem uma
vasta intervenção cultural, cívica, social e política. Entre outros, foi
distinguido com a Medalha
de Prata Dourada da Cultura da
Câmara Municipal da Figueira da Foz (2011)
e a Medalha de Mérito da Cruz Vermelha.
António Augusto Menano nasceu em Coimbra em 6 de Maio 1937. Viveu em Macau durante alguns anos, tendo visitado grande parte dos países do Oriente. Reside actualmente na Figueira da Foz, onde passou a maior parte da sua vida. Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra até ao 4º ano, inclusive. Teve várias profissões: agente de seguros, agente transitário, delegadogeral de Publicações Imbondeiro de Angola, leitor e encarregado de
publicidade de Publicações Europa-América, escreveu para a rádio o programa “O Casal Caeiro, conversa acerca de literatura”. Esteve ligado à gestão, nomeadamente hospitalar, à vida política activa (foi vereador da Câmara Municipal da Figueira da Foz, entre 1982 e 1988, ocupando-se de vários pelouros, com destaque para os da cultura, acção-social, acção cooperativa, habitação, cemitérios, transportes e trânsito. Colaborou na generalidade da imprensa cultural portuguesa, revistas e suplementos de cultura e arte, entre os quais, a de A Capital, O Século, Diário de Lisboa, O Primeiro de Janeiro, O Diário, Vida Mundial (crítica de poesia) e Jornal de Notícias onde organizou os
suplementos de homenagem a Ferreira de Castro, e o primeiro, na imprensa portuguesa, dedicado à ficção científica. Escreveu sobre cinema nas revistas: Via Latina, Vértice, Imagem e Celulóide. Dirigiu suplementos literários na imprensa regional cujos primeiros e terceiros encontros co-organizou. Colaborou também na imprensa portuguesa de Macau (Comércio de Macau e Revista de Macau) tem poesia sua traduzida e publicada em mandarim e inglês.
Foram-lhe atribuídos os seguintes prémios: “Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama”, “Prémio Nacional de Poesia Fânzeres”, “Prémio Nacional de Poesia Oliva Guerra”. Menções honrosas nos prémios: “Fernando Pessoa”, “Bocage” e Universitária Editora; Segundo prémio de conto, no concurso “90 anos do Banco Nacional Ultramarino de Macau” em 1992. “Cunca das Artes 2009” da Associação de Amizade e Arte Galego- Portuguesa, de que é sócio honorário.
Dedica-se desde 1985 à pintura tendo exposto em Portugal, Espanha,
França, Estados Unidos e Macau.