sábado, julho 20, 2013

"CONVERSA AO ENTARDECER" COM MARIA MANUELA DE MENDONÇA E «MEMÓRIAS DE UMA ADOLESCENTE NO LICEU D. FILIPA DE LENCASTRE-DOS CADERNOS DE LISBOA - 1943 A 195»




«Memórias de uma adolescente no Liceu D. Filipa de Lencastre 
(dos cadernos de Lisboa - 1943 a 1950)» de autoria da médica escritora Maria Manuela de Mendonça foi apresentado pela professora universitária (FLUC) Ana Leonor Pereira. A sessão que decorreu na Galeria da Livraria Minerva esteve repleta de condiscípulas do Liceu D. Filipa da Lencastre, colegas, ex-alunas e amigos. A abrir e a terminar a sessão Manuel Rocha, professor e director do Conservatório de Música de Coimbra, brindou os presentes com alguns trechos de música clássica, que interpretou ao violino.

A sessão foi iniciada por Isabel de Carvalho Garcia, seguindo-se as intervenções de Ana Leonor Pereira, Maria Lucília Mercês de Mello, Conceição Riachos, Maria Isabel Alarcão e Josefina Campos. Terminou com a intervenção da autora que agradeceu a presença de todos e evocou os tempos do Liceu 
D. Filipa de Lencastre.



Isabel Garcia em nome da editora MinervaCoimbra, agradeceu à autora e teceu algumas considerações sobre o valor deste livro baseado num diário de uma adolescente, e o valor da escrita e o que ela representou na vida do homem. Através da escrita, faz-se a reprodução do registo da memória, do momento, que fará a história, ou uma história. 
Apelou para a reflexão à volta da aprendizagem correcta  do Português uma vez que, segundo algumas investigações, "estamos perante uma nova tendência de escrita dado que os jovens tendem a transportar as abreviaturas das mensagens que utilizam na comunicação através dos telemóveis, de uma forma que pretendem que seja rápida, e por isso também abreviada, para os trabalhos escolares. É preocupante e eventualmente haverá uma confusão na aprendizagem correcta do português. Mas as novas tecnologias também foram evoluindo, e hoje a  maior parte dos telemóveis da nova geração já trazem correctores incorporados; só que para fazer a escolha certa é preciso saber escrever correctamente a palavra." 
Isabel de Carvalho Garcia agradeceu ainda a Maria Lucília Mercês de Mello o trabalho, a sensibilidade e o bom gosto na colaboração da elaboração gráfica do livro e terminou (a propósito da obra apresentada) citando Herberto Helder: "o autor é o criador de um símbolo heróico: a sua própria vida" e "... O valor da escrita reside no facto de, em si mesma, tecer-se ela como símbolo, urdir ela própria a sua dignidade de símbolo. A escrita representa-se a si, e a sua razão está em que dá razão às inspirações reais que evoca. ..."  
(Herberto Helder in Photomaton & Vox, Assírio & Alvim)

A professora Ana Leonor Pereira fez uma "viagem" guiada e comentada pelas páginas do livro.

Maria Lucilia Mercês de Mello, condiscípula da autora no Liceu D. Filipa de Lencastre, e que faz parte das páginas deste livro teceu algumas considerações sobre a autora e sobre o livro que aqui reproduzimos:

« - Só há poucos dias li o teu livro. Por várias vezes, antes, tinha tentado fazê-lo, mesmo numa leitura breve e “corridinha”. Mas nunca adiantava muito… pois lá tropeçava em aqui e acolá, ficando presa  nesta e naquela lembrança, que era também minha (“ eu também lá estava!”).
Lembrança e que reavivada, se alargava, ia truncar  mais isto e mais aquilo…. e  a carga de emoção  crescia, crescia, e acabava por impedir-me de prosseguir a leitura.
Mas aproximava-se este dia. Ganhei balanço, venci esta emoção tão vivamente ligada à saudade de tempos e de pessoas, e mergulhei na leitura do teu livro – “Memórias de Uma adolescente no Liceu D. Filipa de Lencastre” .
Não posso deixar de dizer que fiquei surpreendida com a sua leitura. Claro que eu sabia do teu gosto e hábito arreigado de escrever: - Escrever por tudo e por nada, escrever por motivos ou sem eles, escrever cartas, descrever passeios e viagens, falar de livros, e …. E era nos cadernos de argolas (ou mesmo de espirais) que não resistias em comprar, sempre que os encontravas, era neles que ias guardando ao longo dos anos a tua escrita.
Eu não a conhecia. Tu lias, algumas vezes, uma página aqui, outra acolá – por isso digo que fiquei surpreendida, agradavelmente, pela maneira interessante que com eles construíste o “corpus” desta obra.
Uma focagem de 7 anos de vida, feita nessa época em registos diversificados, é agora revisitada. Estes registos, memoriais, diarísticos, epistolares, … estão lá, … de cadernos, de anotações, de cartas…, mas o que os liga é uma escrita anterior, na sua maior parte uma escrita de agora.
             É no agora e hoje que os agarras…. Que os apresentas em encaixes na escrita actual, em narrativa que comenta, que critica, que enriquece as memórias ( e portanto ela também memorialista) numa perspectiva marcada pelos anos, numa visão de amadurecimento no entardecer da vida.
         Podendo, assim. O teu livro inscrever-se numa linha memorialista, não é para mim propriamente um simples livro de memórias ( Título) – pois nele encontro sempre uma subjectividade crítica ( exercida hoje, como exercida já na época de cada escrita).
         Neste processo de escrita biográfica, eu acho que escolheste com muito êxito os fragmentos de diários, de notas e apontamentos, e sobretudo de trechos epistolares, todos  verdadeiros criadores e  organizadores do espaço autobiográfico desta narrativa de 7 anos de aluna do Liceu.
       (...)
           Este constante alternar de Tempo de escrita, resultou quanto a mim muito bem.Deu coerência à organização temática que escolheste para o teu livro.

           Parabéns Manuela!

           Aguardo agora o seguinte, de Os Anos da Faculdade.»

Reproduzimos igualmente o texto de Conceição Riachos (que foi aluna da autora)

 « “Em todos os Outonos caem folhas…rodopiam ao vento, perdem-se, desaparecem no nada…”  M.M.Mendonça

Para a Drª Manuela Mendonça:
Relatar a nossa própria vida, as suas rotinas, os seus pequenos quotidianos, as recordações, as cartas, a fotografias, os bilhetes e todas aquelas pequenas coisas guardadas que só a nós interessaram. Depois, transformá-los em algo belo (folhas do meu Outono) que aos outros importe, é uma tarefa apenas para alguns (muito poucos).
Fazer da nossa existência uma descrição sequencial, pormenorizada, agradável e acessível, todos gostaríamos de o fazer, porque afinal a escrita é a comunicação que perdura para além da morte. A marca da nossa existência ficará nos que nos lerem e os livros serão sempre esse elo.
Muitos já escreveram biografias (?) mas poucos conseguiram motivar os leitores a entrar na leitura noite dentro, porque não conseguiram parar. Foi o que me aconteceu com os 2 livros da Drª Manuela. Li até ao fim, de um só fôlego, sem me maçar.
Como num filme as imagens passam diante dos olhos ajudadas pelas fotos e acontecimentos histórico-sociais da época, descritos duma maneira simples e rigorosa.
A vida de cada um de nós, de todos, também é uma sequência de rotinas, banalidades e de pequenos quotidianos. Dar-lhes a forma de obra de arte literária não é seguramente para todos.
Felicito a Drª Manuela por ser também uma grande escritora, por ser alguém que não se limita a passar mas “deixa a marca na estrada”.
Para além da amizade que lhe tenho, ao longo de tantos anos, partilhamos muito mais do que a relação mestre/aluna, num privilégio raro, que é preciso preservar.
“Gostaria que as folhas do meu Outono não desaparecessem todas, levadas pelo vento…”M.M.Mendonça
Estou certa de que muitas dessas folhas outonais resistirão ao vento.
Para a Drª Manuela vai todo o meu carinho.»
                                                    Conceição Riachos

Maria Manuela Ribeiro da Fonseca Esteves de Mendonça
É natural de Lisboa.  Licenciatura em Medicina (FMUL), Curso de Ciências Pedagógicas (FLUL), Internato Geral dos Hospitais Civis de Lisboa. Especialista em Psiquiatria e Pedopsiquiatria. Competência em Gestão Hospitalar reconhecida pela Ordem dos Médicos.
Carreira distinta e laureada. Prática Clínica, hospitalar e privada. Médico-psicopedagogia. Investigação. Docência de Psiquiatria em vários Institutos de Ensino Superior e nas Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra. Membro Honorário e Membro Fundador
de Sociedades científicas nacionais e internacionais.

 Outros livros da Autora
A Psicofisiologia Humana - Tradução da 9ª edição francesa da Presses Universitaires de France da Obra La Psychophisiologie Humaine de Jean Delay, Livraria Almedina, Coimbra, 1974.
 Mais Vale Prevenir... Memórias de uma Época e de um Contributo para a Saúde Mental Infantil, Coimbra, 2006, MinervaCoimbra.
 Hospital Sobral Cid - das Origens ao Cinquentenário. História. Imagens Memórias. Coimbra, 2006,  MinervaCoimbra.
O Livro não Escrito in "Contos de Médicos Portugueses". Lisboa, Ed. Celom,2007, (Centro Editor Livreiro da Ordem dos Médicos).
50 Anos a Exercer Medicina (1957-2007), 2007, Coimbra.
Nascer nos Anos Trinta - Memórias e Imagens de um Quotidiano,2009, Coimbra.

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