terça-feira, maio 12, 2009

Fernando Namora por entre os dedos da PIDE

Paulo Marques da Silva, José Manuel Mendes, Jorge Bento,
Belmiro Moita, Luís Reis Torgal e Isabel de Carvalho Garcia


As Edições MinervaCoimbra, a Associação Portuguesa de Escritores e a Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova promoveram o lançamento da obra “Fernando Namora por entre os dedos da PIDE”, da autoria de Paulo Marques da Silva. Trata-se do volume 27 da Colecção Minerva História, dirigida por Luís Reis Torgal, e é o segundo trabalho publicado no âmbito da série "A Repressão e os Escritores no Estado Novo”, da qual o primeiro volume se intitula "Miguel Torga e a Pide", da autoria de Renato Nunes.

A cerimónia inscreveu-se numa iniciativa da APE que visou celebrar os 90 anos do nascimento de Fernando Namora, assinalados a 15 de Abril. Na sessão esteve presente o presidente da associação, José Manuel Mendes, para quem “faltava alguma investigação que desse corpo à presença do cidadão [Fernando Namora] ao longo da vida”. A obra de Paulo Marques da Silva vem, por isso, colmatar esta falha.

José Manuel Mendes recordou a personalidade de Namora que “se não eximiu nunca a assumir os seus grandes combates. E esses combates foram, antes e depois do 25 de Abril, os da liberdade, os da democracia, os da justiça social e os da dignidade humana”.

A obra foi apresentada por Luís Reis Torgal, orientador da tese que lhe esteve na origem. Recordando que Fernando Namora nunca chegou a ser preso, apesar de ter sido constantemente vigiado pela polícia política, o historiador referiu que o escritor foi o mais adaptado ao cinema por realizadores de ideologia bem distinta, facto que considera “curioso” dada a problemática social que caracteriza a sua obra.

“A sua escrita, uma escrita social, não era o que mais atraía a atenção da polícia, como sucedeu com Miguel Torga. Curiosamente, apesar do neorrealismo ter sofrido a vigilância constante da PIDE, os livros de Namora puderam correr o país e o mundo, em traduções para várias línguas”, referiu Reis Torgal, acrescentando: “O que mais provocou a observação constante da polícia foram as suas constantes posições de crítica ao Estado Novo e as reuniões com outros oposicionistas, que o levaram a ser interpretado como ‘próximo dos comunistas’, com quem, de resto, teve também as suas polémicas”.

Finalmente, Paulo Marques da Silva elencou os assuntos abordados no livro, desde o percurso pessoal de Fernando Namora ao Neorrealismo, passando pela censura em relação aos escritores e, finalmente, a análise dos processos da PIDE com a reprodução de vários documentos e relatórios fruto da vigilância a que o escritor foi sujeito durante 29 anos, bem como a reprodução de várias cartas inéditas do espólio pessoal de Namora.

Na sessão participaram também Isabel de Carvalho Garcia, das Edições MinervaCoimbra, que abriu, e Jorge Bento, autarca condeixense, que encerrou.







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