sábado, abril 18, 2009

Escola, igualdade e diferença

Maria Helena Damião, Joaquim Pires Valentim e Isabel de Carvalho Garcia


Nas últimas sessões, dedicadas às capacidades cognitivas e à motivação, enveredou-se por uma abordagem genérica da aprendizagem, que legitima a afirmação da igualdade. Esta requer, porém, uma outra que lhe é complementar: a abordagem da diferença. De facto, se é certo que todos dispomos de uma estrutura cognitiva, também é certo que ela só existe e se desenvolve num certo contexto cultural.

Para Joaquim Pires Valentim, professor da Universidade de Coimbra e doutorado em psicologia social, e convidado da última sessão do ciclo “O dever de educar” com o tema “Escola, igualdade e diferença”, depois de durante várias décadas a escola ter apostado na homogeneização da educação e de ter contribuído para a redução de desigualdades, nomeadamente, desigualdades de cariz social, quando a democratização permitiu que todos frequentassem o ensino, assiste-se agora à consciencialização de que, afinal, se se quiser pensar em termos de um sistema educativo igualitário, não basta oferecer a todos o mesmo.

“Se sentarmos ricos e pobres lado a lado, aqueles que estão em desvantagem acentuarão a sua desvantagem”, frisou o especialista, acrescentando que no sentido mais utópico, o que se pretende é tentar que “os resultados escolares não sejam desiguais em função das diferenças de classe social, de cultura ou de sexo”, mas numa versão mais pragmática “é tentar assegurar que pelo menos ao nível das competências básicas todos, de facto, atingem essa igualdade em termos de resultados”.

As funções da escola em torno da igualdade, acrescentou ainda, são cada vez menos vistas como uma corrida pelos melhores postos profissionais na sociedade, mas como uma igualdade de oportunidades no desenvolvimento de potencialidades dos indivíduos. “Essas potencialidades são necessariamente diferentes entre os indivíduos”, provocando abertura ao reconhecimento da diferença e da especificidade.

Hoje, a escola alarga esse “respeito pela diferença” às diferenças culturais. Joaquim Pires Valentim, mostrando-se favorável a uma escola que não é cega à diversidade cultural, alertou para os riscos do relativismo cultural e da defesa dos particularismos que podem comprometer a missão universalista e de integração social que a escola não deve abandonar, apesar de todas as transformações que a têm caracterizado.


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