quinta-feira, janeiro 26, 2006

Coimbra está a perder identidade

Historiador Paulino da Mota Tavares considera que a cidade está a tratar mal os cidadãos

A Livraria Minerva tem vindo a organizar todas as terças-feiras encontros-debates com personalidades das artes e letras, num ambiente de tertúlia que já se impôs como um caso ímpar na vida cultural da cidade. Esta semana coube a vez a Paulino da Mota Tavares abordar o tema "Coimbra caldo de cultura ou cultura do caldo?". Uma interrogação que despertou a atenção de uma plateia disposta a ouvir o conferencista, conhecido historiador, para quem a gastronomia é uma vertente incontornável do nosso passado (e presente) cultural.
Num momento em que a cidade atravessa um período conturbado nas relações entre alguns agentes culturais e a autarquia, que reduziu a verba para a Cultura, Paulino da Mota Tavares considerou que "Coimbra está a atravessar uma crisezinha, que também passa pela cultura". Considerou mesmo que "Coimbra tem tratado mal os cidadãos", pelo que importa "prevenirmo-nos no futuro". E apontou alguns exemplos o desaparecimento dos eléctricos, quando "as cidades da Europa os recuperam"; a destruição dos laranjais, "uma marca da cidade" e o "absurdo das construções", com a invasão do cimento.
Urge, portanto, "aquecer este caldo, reformulá-lo" para que a urbe não perca a sua identidade, construída ao longo de séculos de história. Esta "entrada" serviu de mote para o "prato principal", que o historiador iria servir uma "sopa" suculenta de dados históricos. Co-fundador do Festival da Sopa de Tomar, este defensor da gastronomia tradicional lusa elogiou esse manjar das mesas portuguesas, que está a cair em desuso.
"Sopa entornada, boca lavada", disse, ao citar um poeta medieval, considerando que "a sopa atravessa a cultura portuguesa", um bem da "nossa portugalidade", por vezes bem mais apreciado pelos turistas, em contraste com as novas gerações de portugueses.
Defendeu que os roteiros turísticos devem apostar mais na gastronomia, sem esquecer as ricas e variadas sopas da nossa cozinha tradicional. Para ele é fundamental "restaurar a gastronomia portuguesa, que nos distingue dos outros".
Hoje, ultrapassada por menus importados, que nada têm a ver com a nossa cultura, com a nossa história.

Américo Mascarenhas | JN

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