Isabel de Carvalho Garcia e Conceição Mendes
"Os caminhos da pintura", com Conceição Mendes, mestre em Comunicação Estética (EUAC), foi o tema de conversa de mais uma tertúlia que decorreu na Galeria Minerva. Esta sessão teve como inspiração a exposição coletiva de pintura patente na Galeria com obras de Barrett, Conceição Mendes, Hipólito Andrade, José Castilho, Maria Alcina, Paulo Diogo, Paulo Simões, Tesha e Vasco Berardo, e que pode ser visitada até 17 de fevereiro.
Conceição Mendes fez uma breve incursão pela história da pintura desde a antiguidade até aos nossos dias. No final decorreu um animado debate com os presentes a questionarem o que é a pintura hoje e as várias correntes estéticas.
“É lugar-comum que desde sempre houve uma segmentação estética em termos de divisão artística por tendências, que corresponde à distinção entre diferentes escolas, programas, movimentos, correntes, estilos, grupos, como o Renascimento, o Impressionismo, o Surrealismo, o Cubismo, a Pop, o Dada, as vanguardas e tantos outros, cujas possibilidades de exemplificação são inumeráveis”, referiu.
“A importância desta distinção torna-se evidente, desde logo, pelo facto de ser em função dela que se estrutura a história da pintura e da arte em geral, ou pelo menos a esmagadora maioria de visões da história da arte. O tempo longo da história, traduzido em décadas, séculos, milénios, vai-se compondo e recompondo em função do peso das sobrevivências de cada tendência e da estruturação do passado que a sua sucessão promove”, esclareceu Conceição Mendes.
“Hoje a pintura reveste-se de características únicas e as alterações radicais impostas pelas correntes artísticas do século XX irão certamente continuar. Atualmente, na prática da pintura, é a própria pintura que está em jogo, é a pintura “ensimesmada”; hoje a representação da realidade em pintura já não faz sentido. Os procedimentos têm mais a ver com a tinta do que com o representado e as decisões que se tomam são muitas vezes condicionadas pela própria pintura ou pela forma como os materiais se comportam no momento do registo. E é sabido que diferentes materiais trazem diferentes plasticidades e neste sentido a experimentação é fundamental”.
De acordo com a palestrante, “hoje, a tela já não tem o sentido clássico de janela através da qual se vê e assume a condição de lugar onde tudo acontece. É o lugar onde se misturam as tintas porque as preocupações são exclusivamente plásticas. Hoje a prática da pintura assenta na experimentação. Nunca antes a experiência e a inovação foram tão relevantes para a pintura e para arte em geral. Nunca antes se esteve perante uma tão grande multiplicidade de opções, tendências e processos de expressão artística que conduzem a arte por caminhos tão diversos e imprevisíveis. Hoje não há uma sequência cronológica coerente e a delimitação de correntes ou estilos torna-se cada vez mais imprecisa, se não mesmo impossível de delinear. A história da pintura avança para um encontro com o desconhecido e o incerto. Só a passagem do tempo pode revelar quais os artistas do nosso mundo contemporâneo que perdurarão e deixarão o seu legado”.
Para Conceição Mendes “o que parece certo é que as grandes propostas residem na inovação. Há uma grande tensão entre a arte e a técnica que coloca a arte num lugar de intensa experimentação. Não se trata de inventar mas sim de dar o passo em frente. É o que está à nossa frente, é o passo seguinte, e esse caminho é inevitável!”. Por outro lado, “também é importante referir que a obra suscita diferentes interpretações por parte do observador e torna-se evidente que o observador é indispensável, é imprescindível em todo este processo. As coisas acabam por ser também aquilo que cada um de nós vê e a forma como as vê”.
E concluiu: “É esta multiplicidade de formas de produção artística a que hoje assistimos, as novas gramáticas, as novas atitudes, colocam-nos perante uma enorme diversidade de tendências, de orientações, que nos distanciam substancialmente daquela arte que começou um dia riscada nas paredes das cavernas e se consolidou através dos séculos que nos precederam”.
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