quinta-feira, maio 31, 2007

quarta-feira, maio 30, 2007

Portugal-Alemanha: Memórias e Imaginários

PORTUGAL-ALEMANHA: MEMÓRIAS E IMAGINÁRIOS Primeiro volume: Da Idade Média ao século XVIII
Coordenação e Prefácio de Maria Manuela Gouveia Delille

In Memoriam A. H. de Oliveira Marques

Na capa: Portugalia, in: Liber chronicarum de Hartmann Schedel, Nürnberg, Anton Koberger, 1493

A obra resulta de um ciclo de conferências proferidas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no âmbito do projecto de investigação “Relações Literárias e Culturais Luso-Alemãs. Estudos de Recepção e de Hermenêutica Intercultural” do CIEG (Centro Interuniversitário de Estudos Germanísticos), o presente volume reúne 15 textos em que memórias históricas alternam ou se fundem com representações ficcionais do Outro, entre a Idade Média e o século XVIII. Um segundo volume abrangerá os séculos XIX e XX.


Textos de
A. H. de Oliveira Marques
Marília dos Santos Lopes
Jürgen Pohle
João José Alves Dias
Ana Maria Pinhão Ramalheira
Erwin Koller
Marion Ehrhardt
Maria Manuela Gouveia Delille
Alexandra Pinho
Peter Hanenberg
Thorsten Unger
Manuela Ribeiro Sanches
Fernando Clara
Hermann Krapoth
Dietrich Briesemeister



Prefácio Reúnem-se no presente volume os textos de um ciclo de conferências proferidas, entre Dezembro de 1999 e Abril de 2005, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no âmbito do projecto de investigação “Relações Literárias e Culturais Luso-Alemãs. Estudos de Recepção e de Hermenêutica Intercultural” do Centro Interuniversitário de Estudos Germanísticos. Com esta publicação pretende-se contribuir para a escrita, em grande parte ainda em construção, da história das relações literárias e culturais luso-alemãs, história essa que não nos permite cair em binarismos fáceis ou simplistas, mas que exige, muito particularmente pela distância geográfica a que os dois países se encontram e pela diferença linguística, uma constante atenção ao contexto europeu mais vasto em que as ditas relações ou contactos surgiram, se transmitiram e desenvolveram. Cada um dos investigadores convidados a participar no ciclo escolheu livremente o tema, procurando, dentro dos objectivos propostos, trazer um contributo próprio, fruto das suas pesquisas e do seu saber. São por isso pedras díspares as aqui reunidas, mas todas elas, de modo inevitavelmente diverso – umas reconstituindo ou esclarecendo factos e memórias históricas, outras concentrando-se em representações ficcionais ou ficcionalizadas –, me parecem vir preencher algumas das muitas lacunas ainda existentes na história dos contactos havidos entre Portugal e a Alemanha. Sob a designação de “Alemanha”, no período de tempo abrangido pelo presente ciclo – do século XII ao século XVIII –, entende-se, talvez seja necessário dizê-lo, o conjunto de Estados alemães pertencentes ao Sacro Império Romano (Heiliges Römisches Reich), denominado, a partir da segunda metade do século XV, Sacro Império Romano-Germânico (Heiliges Römisches Reich deutscher Nation). A abrir o ciclo surge um texto do Professor A. H. de Oliveira Marques, nosso primeiro convidado, a quem, pela excelência e pelo carácter pioneiro dos seus estudos luso-germânicos, era devida a primazia. Recuando à história prévia e aos primórdios das relações entre Portugueses e Alemães, após concisa exposição sobre as sucessivas migrações de povos germânicos para a Península Ibérica, Oliveira Marques refere o período das grandes Cruzadas como decisivo para as relações entre os Germanos e o Ocidente peninsular, sublinhando o facto de a passagem contínua das frotas de cruzados pelo litoral oeste da Península ter sido particularmente importante no estabelecimento e incremento de relações comerciais e na habituação progressiva ao contacto com outros povos e culturas. Nesse contexto, confere especial relevo ao auxílio prestado por cruzados alemães do Sacro Império na conquista de Lisboa aos Mouros e salienta a posterior fixação de alguns deles naquela cidade e em regiões circundantes. Segue-se o texto de Marília Santos Lopes, que, depois de pôr em evidência o forte interesse suscitado pelos Descobrimentos Portugueses na Alemanha, destaca o papel desempenhado por comerciantes, cronistas, tradutores e viajantes na divulgação do novo saber na Europa Central e as múltiplas formas de infiltração desses conhecimentos no discurso científico e artístico do tempo, revelando-se especialmente significativo o contributo prestado por artistas gráficos alemães para a iconografia dos Novos Mundos descobertos pelos navegadores portugueses. Jürgen Pohle, por seu lado, concentra-se no reinado de D. Manuel I, acentuando o modo como a política daquele monarca conduziu a uma aproximação dinástica entre as casas de Avis e Habsburgo e intensificou, através da concessão de generosos privilégios, a actividade dos comerciantes alemães que a expansão marítima portuguesa e o consequente tráfego tinham atraído a Lisboa. Detendo-se ainda no século XVI, João José Alves Dias, através de uma pesquisa efectuada nos registos inquisitoriais lisbonenses da época, inventaria e relata vários casos de membros da colónia alemã que, denunciados por práticas ou indícios de prática de luteranismo ou por comportamentos sociais que infringiam a normalidade vigente, foram objecto de investigação e até de condenação pela Inquisição de Lisboa. Ana Maria Ramalheira, a partir da análise de diversas publicações volantes que circularam na Alemanha de finais do século XVI sobre a batalha de Alcácer Quibir, também chamada dos Três Reis, detecta – prestando especial atenção às representações do Islão nelas contidas – uma clara tendência para a otomanização do conflito, resultante da ameaça que os Turcos representavam naquela altura para a integridade territorial e religiosa do Sacro Império Romano-Germânico. Num estudo relativo à mesma época histórica, Erwin Koller apresenta uma versão manuscrita inédita, por ele descoberta na Biblioteca de Viena de Áustria, do relato rimado Der Portugalesische Krieg, o qual incide na campanha filipina que terminou na anexação de Portugal à coroa espanhola em 1580. A comparação minuciosa levada a cabo com duas versões já conhecidas, também manuscritas, do mesmo relato permite o levantamento de novas hipóteses, quer quanto à interdependência entre os três textos e à possível existência de um ‘original’, quer sobre a forma de transmissão e versificação dessas memórias bélicas. Já no que diz respeito ao século XVII, período em que os testemunhos do relacionamento entre Portugal e a Alemanha são relativamente escassos, Marion Ehrhardt evoca a figura injustamente esquecida do infante D. Duarte de Bragança, irmão mais novo do rei D. João IV, a sua brilhante carreira militar na Europa Central, onde se distinguiu no decorrer da Guerra dos Trinta Anos, e o seu destino trágico como vítima da perseguição política dos reis espanhóis, que, em 1640, com a conivência do imperador austríaco do Reich, o encarceraram até à morte, em Milão, no ano de 1649. Maria Manuela Gouveia Delille, com base na análise dos três primeiros textos que documentam a recepção do tema inesiano na Alemanha – duas traduções, de finais ainda do século XVII, de uma novela francesa e uma sinopse, até hoje totalmente desconhecida, de um drama de molde jesuítico representado em 1735 num convento franciscano da Suábia –, compara a imagem idealizada de Inês de Castro nas duas narrativas históricas ficcionais seiscentistas com a representação disfórica dessa mesma figura naquele drama escolar, de intuitos didáctico-moralizantes, que é possível situar no ambiente próprio de uma tardia Contra-Reforma. Nos inícios do século XVIII, não obstante continuarem a ser diminutos os contactos entre Alemães e Portugueses, as obras alemãs da nova ciência da Estadística são as primeiras a acusar um interesse crescente por Portugal. Alexandra Pinho analisa as descrições do Estado Português da autoria de Adlerhold e de Schmauß, publicadas em territórios do Sacro Império no início de Setecentos, apresentando-as como exemplo da coexistência de dois modelos de estudo e de escrita dos Estados: seguindo uma concepção oriunda do século XVII, Adlerhold (1703) reúne o maior número possível de fontes, alinhando-as sem as identificar nem submeter a critérios de classificação; Schmauß, por seu turno, constrói a sua ‘nova’ descrição do Estado Português (1714) com base na classificação e avaliação das fontes, processo inerente a uma historiografia cientificamente fundamentada segundo os princípios do Primeiro Iluminismo. Cingindo-se também à primeira metade do século XVIII, Peter Hanenberg ocupa-se do romance de Johann Gottfried Schnabel, Wunderliche Fata einiger See-Fahrer [Destinos Maravilhosos de Alguns Navegadores], publicado em quatro volumes entre 1731 e 1749 – o qual Ludwig Tieck, numa edição de 1828, intitulou Die Insel Felsenburg –, procurando chamar a atenção para a imagem ficcional dos Portugueses aí apresentada, que lhe parece dever entender-se como clara manifestação de um encontro negativo com o Outro, resultante de diferentes mundividências. Os habitantes da ilha de Felsenburg representam uma comunidade ideal de origem europeia, que goza de bem-estar e riqueza, cumprindo uma rigorosa ética protestante, caracterizada pela dedicação exemplar ao trabalho. No decurso do romance, mais do que uma vez se acentua a sua superioridade em relação aos católicos portugueses, dominados por concepções hedonísticas. O Terramoto de 1755 atraiu sobre Portugal o interesse de muitos homens das ciências e das letras alemãs. Thorsten Unger apresenta-nos a tragédia burguesa 
Die Lissabonner [Os Lisboetas] (1757-1758), de Christian Gottlieb Lieberkühn, a primeira obra dramática alemã sobre o grande sismo. Nela presenciamos, no próprio dia da catástrofe, o destino trágico de uma família lisboeta que, embora tenha conseguido escapar a derrocadas e incêndios, vem a sucumbir devido às intrigas do vilão da peça. Exemplificando assim no universo ficcional a sobreposição do mal moral ao mal físico, o drama desvia-se do discurso seu contemporâneo sobre a teodiceia e põe essencialmente questões do foro antropológico-filosófico. À luz de uma teoria crítica pós-colonial, Manuela Ribeiro Sanches vem demonstrar como, no relato Viagem à volta do Mundo (A Voyage round the World, 
1777 / Reise um die Welt, 1778-1780) de Georg Forster, a descrição da estadia da expedição de Cook nas ilhas de Cabo Verde, na Madeira e nos Açores e dos contactos aí estabelecidos com os autóctones obedece aos pressupostos em que assenta o discurso coevo de matriz evolucionista sobre a história da humanidade, no qual a diferença é interpretada como atraso ou deficiência e associada à cor escura da pele. Trata-se de um modelo com uma longa história, um modelo de temporalidade ocidental, estritamente eurocêntrico, que, segundo a autora, importa contextualizar, pôr em causa e desmontar de modo a que, entre outros aspectos, se torne possível reconhecer as marcas por ele deixadas na nossa contemporaneidade. Ainda no âmbito da literatura de viagens, Fernando Clara detém-se na análise das polémicas e controvérsias que detectou em textos sobre Portugal publicados na Alemanha em finais do século XVIII e inícios do século XIX. No caso específico dos relatos de viagens são regra geral os prefácios, os posfácios e as notas de rodapé os locais em que essas polémicas e controvérsias se desenvolvem, em que, como se põe em relevo no presente artigo, se questiona, por vezes de forma muito veemente, ‘o valor da palavra’. Partindo dessa questionação, o autor tece pertinentes considerações sobre o valor epistemológico e literário deste tipo de literatura. Os dois últimos contributos, abrangendo grande parte, quando não a totalidade, do século XVIII, oferecem-nos exposições de carácter panorâmico, densamente informativas, respectivamente, sobre o estudo da literatura portuguesa na Universidade de Göttingen e a recepção da literatura e da cultura portuguesas na Alemanha. Hermann Krapoth começa por enquadrar os Estudos Portugueses no ensino das línguas e literaturas modernas, designamente no ensino das línguas românicas que se praticava numa universidade como a de Göttingen fundada no Século das Luzes, descrevendo os pressupostos institucionais e concepcionais desse ensino. De seguida, após referir a génese e evolução, em moldes científicos, da Historia Litteraria, salienta o interesse despertado pela literatura portuguesa na política de aquisição do acervo da Biblioteca da Universidade de Göttingen e, muito especialmente, o tratamento dessa literatura nas obras de três famosos professores da mesma Escola: Johann Andreas Dieze, Johann Gottfried Eichhorn e Friedrich Bouterwek. Finalmente, Dietrich Briesemeister, depois de uma breve referência à relativa escassez do intercâmbio luso-alemão durante o reinado de D. João V, traça um quadro pormenorizado da recepção que os principais eventos históricos, temas e obras portugueses suscitaram na Alemanha a partir da segunda metade do século XVIII, destacando não só a atenção dedicada a Portugal na historiografia, em enciclopédias e em manuais de Estadística, mas também, juntamente com as primeiras gramáticas, dicionários e vocabulários, as traduções de obras literárias que começam a surgir no último quartel de Setecentos, comprovativas de um interesse crescente pela literatura portuguesa, que culminará na recepção intensa de Os Lusíadas de Luís de Camões pelo Romantismo alemão nos inícios do século XIX. As páginas finais do volume incluem resumos em língua alemã de todos os artigos pela ordem do seu aparecimento na antologia, bem como notas biográficas sobre os respectivos autores. No conjunto dos quinze textos de carácter historiográfico, histórico-literário e/ou hermenêutico coligidos neste primeiro tomo, em que memórias históricas alternam ou se fundem com interpretações de imagens mais ou menos ficcionalizadas do Outro, é curioso notar o nítido predomínio de estudos incidentes na recepção de matéria portuguesa na Alemanha ou em obras alemãs. Quem bem souber ler notará igualmente que todos estes textos vêm abrir novas perspectivas, visto todos eles conterem sugestões preciosas para trabalhar num campo que continua a oferecer múltiplas possibilidades de pesquisa original.
Maria Manuela Gouveia Delille


Volume integrado na Colecção Minerva/CIEG
Dirigida por Maria Manuela Gouveia Delille


Na contracapa: A Germânia deplora o triste destino de Lisboa,
gravura alemã sobre o Terramoto de 1755.
© Museu da Cidade – Câmara Municipal de Lisboa




Índice geral

A. H. de Oliveira Marques
Os Germanos em Portugal (séculos V-XII): revisão do problema

Marília dos Santos Lopes
Os Descobrimentos Portugueses e a Alemanha

Jürgen Pohle
As relações luso-alemãs no reinado de D. Manuel I (1495-1521)

João José Alves Dias
A colónia alemã de Lisboa face à Inquisição: um olhar sobre o século XVI

Ana Maria Pinhão Ramalheira
A turquização da grande batalha africana de Alcácer Quibir na literatura volante alemã do século XVI

Erwin Koller
A propósito de mais um manuscrito do texto Der Portugalesische Krieg 
[A Guerra Portugalesa]

Marion Ehrhardt
D. Duarte de Bragança (1605-1649): um príncipe português na Guerra dos Trinta Anos na Alemanha

Maria Manuela Gouveia Delille
«Cordeiro inocente» ou «Vénus incasta»: duas representações femininas antinómicas nos inícios da recepção literária alemã do tema de Inês de Castro

Alexandra Pinho
Utilidade e deleite em duas descrições alemãs do Estado Português no início do século XVIII

Peter Hanenberg
Encontros luso-alemães nos Mares da Índia. Sobre o romance Die Insel Felsenburg [A Ilha de Felsenburg] de Johann Gottfried Schnabel



Títulos em preparação, em 2007, na mesma colecção:

Camões e D. Sebastião na Obra de Reinhold Schneider
Maria Cristina Carrington

«Magellan. Der Mann und seine Tat» de Stefan Zweig: Um Exemplo de «Biografia Moderna» dos Anos 30 sobre uma Figura Histórica Portuguesa
Maria de Fátima Gil

«Die Leiden des jungen Werthers» em Portugal até Finais do Primeiro Romantismo
Maria Antónia Gaspar Teixeira

Portugal-Alemanha: Memórias e Imaginários.
Segundo Volume: Séculos XIX e XX
Maria Manuela Gouveia Delille
(coordenação e prefácio)

O Livro das Imagens


As Edições MinervaCoimbra promoveram ontem, na FNAC-Chiado (Lisboa) o lançamento de "O LIVRO DAS IMAGENS", de João Mário Grilo, que contou com apresentação de Manuel Maria Carrilho.

O livro recolhe uma selecção extensa das crónicas escritas pelo autor para a revista Visão e publicadas numa coluna de opinião sobre as questões do audiovisual, que recebeu o título “Imagens”.

Desprendidas dos fios que outrora as amarraram à sua periodicidade, este conjunto de crónicas oferece-se, agora, no formato de livro, como um outro modo de visitar o tempo desta (quase) década de imagens e sons, inventando o seu próprio calendário e o percurso das suas infinitas relações.

O Coração Aqui


Decorreu recentemente, no Porto, a sessão de lançamento do livro de poesia de Maria Ramos (Maria Odete Ramos Campos).

A sessão realizou-se na Casa dos Arcos e contou com a presença de Isabel de Carvalho Garcia, das Edições MinervaCoimbra.

A obra foi apresentada por Daniel Serrão, professor catedrático jubilado da Universidade do Porto e membro do Comité de Bioética do Conselho da Europa.

No final actuou o Coro Dramático da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto, do qual a Autora faz parte.













P O E S I A
De Maria Ramos

Minha Querida Amiga Maria Ramos
Estou, hoje, aqui, numa grande dificuldade.
Apresentar um livro de poesia é impossível, porque a poesia é um mistério.

Analisando, uma vez, na Academia das Ciências, a poesia de António Gedeão escrevi que o Poeta usa as palavras de todos nós, mas atribui-lhes um outro e novo sentido, desconstrói a sintaxe comum, inventa um ritmo próprio, como que fazendo ondular as palavras, e descobre consonâncias vocálicas que são a música interna do poema.

Tudo isto acontece na auto-consciência do Poeta; mas nem ele nem nós sabemos como acontece. E no como deste acontecer pessoal é que está o mistério e o sortilégio da poesia.
Quando lemos poesia partilhamos deste mistério mas não o compreendemos.

Sentimos pela nossa inteligência emocional mas não sabemos porque sentimos. A nossa inteligência racional, reflexiva e simbolizadora, não consegue dar-nos uma explicação lógica.
Por isso, ler ou ouvir ler ou ouvir ler um poema é como contemplar uma pintura. Há uma mensagem que está nas linhas, nas cores, nos volumes, mensagem que captamos emocionalmente, que nos dá prazer ou desgosto, alegria ou tristeza, mas que não sabemos explicar ou traduzir por palavras. Entre a invenção pessoal do pintor, que ele passou para a tela, e a nossa captação dela, há um hiato de mistério. É o segredo deste mistério que hoje vale milhões, quando num leilão da Christie’s aparece, por exemplo, o rapaz da boina, de Picasso, uns lírios de van Gogh ou um dos vários auto-retratos de Rubens. E seriam milhares de milhões se, por milagre impossível, lá aparecesse um dia o misterioso sorriso de La Gioconda.

Foi este o mistério que pressenti ao ler os poemas de Maria Ramos.

Não são poemas para ler de afogadilho, às pressas. São para ler devagar, agora um logo outro, para lhe apreender primeiro a forma e o ritmo, depois o sentido de cada palavra, e, finalmente, intuir a emoção global que estaria no espírito - na auto-consciência - da autora, Maria Ramos.

Como notas de leitura, direi:

- São poemas de amor, mas não são só poemas de amor. Como Pablo Neruda, esse brilhante poeta judeu chileno, que escreveu vinte poemas de amor e uma canção desesperada, também Maria Ramos tem, pelo menos, um poema desesperado

Deixaste-me Senhor,
De mãos vazias
Com o amargo sabor
Da desventura

- São poemas de amor, mas não do amor piegas e romântico, antes daquele amor que, como diz noutro poema,

Não se mede
Não tem peso
Nem lei

É o amor que acontece. E que, noutro poema, assim se exprime

O Amor
Distante é afinal
Tão próximo
E tão longe
Tão grande
E tão pequeno…
Maior que a Humanidade
E tão banal…
Que dá
E vai tirando
E torna a dar
Numa entrega constante,
Que é preciso conhecer
Para segurar…

- Também são poemas de sonho e de verdade, tão subtis que não sabemos bem onde acaba o sonho e começa a verdade ou onde a verdade se transforma em sonho

A “menina loira” soube trazer da areia da praia para este belo livro,
Os versos mais belos que andara a sonhar,
não deixando que o vento os levasse e deixassem de ser.

Cara Maria Ramos, deixe-me que a felicite por ter posto no mundo este seu filho. Ajudou a nascer milhares de filhos de outras mães, mas este foi, talvez, o seu parto mais difícil, a coroar uma gestação de muitos anos. Afinal, uma gestação prolongada, mas saudável.

Mas creia que valeu a pena dar à luz do dia este seu “Coração aqui”.

E nele um outro filho de carne e osso, o Pedro, deixou uma marca de leveza, de inspiração e de elegância. Gostei de todos os desenhos mas penso que foi particularmente feliz no que acompanha o poema “Menina loira”.

O filho agora está fora do seu corpo e vai andar por aí com a excelente apresentação gráfica que é timbre da MinervaCoimbra.

Cabe-nos a nós recolhê-lo, acalentá-lo e fazer com que muitos outros o conheçam e o amem.

Daniel Serrão

terça-feira, maio 29, 2007

Edições MinervaCoimbra na Feira do Livro de Lisboa

As EDIÇÕES MINERVACOIMBRA encontram-se
na 77.ª edição da Feira do Livro de Lisboa,
até 10 de Junho,
no Pavilhão n.º 22, da Aillaud & Lello.

Edições MinervaCoimbra iniciam série histórica sobre a repressão e os escritores no Estado Novo



As Edições MinervaCoimbra lançaram recentemente a obra “Miguel Torga e a PIDE”, da autoria de Renato Nunes, o primeiro de uma série sobre a repressão e os escritores no Estado Novo, integrada na Colecção Minerva História, dirigida por Luís Reis Torgal.

A obra contou com a apresentação da historiadora Irene Flunser Pimentel, para quem “a grande questão sempre recorrente quando se procede à caracterização do regime ditatorial de Salazar e Caetano, através das suas instituições, é aquela que remete para a sua duração. Ou seja, tentar responder à pergunta: porque perdurou o Estado Novo durante tanto tempo? E, por outro lado, se algumas das suas instituições tiveram um papel preponderante nessa duração?”.

Efectivamente, e de acordo com a especialista, “a polícia política e a Censura ajudaram o regime a manter-se, assim como outros dos seus grandes pilares – a Igreja, e sobretudo as Forças Armadas”. No entanto, acrescenta, “o eficaz aparelho de Censura e o sistema de «saneamento» político estiveram umbilicalmente relacionados com a polícia política e contaram sempre com a sua colaboração”, sendo que “esta última foi o último factor de todos os instrumentos de intimidação, desmobilização, prevenção e repressão dos portugueses. Quando todos os meios de prevenção e dissuasão não impediam os surtos de resistência, então lá estava a polícia política para reprimir e neutralizar selectivamente aqueles que lutavam contra o Estado Novo”.

Este estudo sobre Miguel Torga e a PVDE/PIDE/DGS aborda precisamente a polícia política e a Censura. “Trata-se de uma monografia que parte da análise das 450 páginas do processo da polícia política de um determinado escritor – Miguel Torga –, cujo ponto de partida e hipótese analítica, confirmada pela conclusão, parte do particular para aventar a existência de uma situação mais geral: a repressão aos escritores”.

Mas uma vez que se sabe e está na legislação a censura prévia às publicações periódicas, teatro e cinema, afinal, houve, ou não censura prévia aos textos literários? A resposta é afirmativa e Renato Nunes lembra, na sua obra, o DL 22469 de 30/8/43 que alargou a Censura às publicações não periódicas, que apesar de não ter introduzido, no papel, a censura prévia, ou seja, a repressão preventiva das páginas literárias, a prática acabou por ser outra, mais insidiosa e perversa.

“A partir do diploma de 1943, a ambiguidade da lei contribuiu para confundir as editoras, que, para evitarem riscos e represálias, consentiram enviar previamente obras que pretendiam publicar à DGC”, recorda Irene Flunser Pimentel. “Portanto, uma das funções do Gabinete de Leitura das páginas literárias também passava por fazer a censura prévia, pois contava com um processo de auto-censura por parte dos escritores, embora, diga-se, não tivesse sido o caso de Torga”.

Recorde-se que o escritor sempre se recusou a apresentar previamente as suas obras. Mas houve, no entanto, “escritores, intelectuais e artistas expressamente convocados para apresentar as suas obras antes de serem distribuídas e a censura repressiva, numa fase posterior a publicação, a posteriori, sempre existiu”.

Para Luís Reis Torgal, orientador do trabalho de investigação de Renato Nunes, “Miguel Torga e a PIDE” é um estudo sobre um processo organizado pela PIDE — sigla pela qual a polícia política se tornou tristemente célebre —, que “mostra como a nossa «ditadura» não teve, efectivamente, o carácter «original» e «benevolente» – imagem que o regime deu de si próprio – que se lhe quer por vezes atribuir, numa lógica «revisionista»”. Efectivamente, conclui, “a literatura, como qualquer outra arte, ou qualquer forma de vida, era constantemente vigiada e violada”.

A obra conta com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia e do Ceis20 - Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX.



Irene Flunser Pimentel


Luís Reis Torgal


Renato Nunes


Maria Manuela Tavares Ribeiro
(Coordenadora Científica do Ceis20)







José Alberto Garcia e Alexandre Garcia

segunda-feira, maio 28, 2007

sábado, maio 26, 2007

MinervaCoimbra n'O Primeiro de Janeiro

Livro é hoje lançado em Coimbra Relações de Torga com a PIDE

“Miguel Torga e a PIDE - A repressão e os escritores no Estado Novo”, da autoria do docente Renato Nunes, será apresentado hoje em Coimbra. Uma obra no âmbito de uma colecção onde serão ainda analisados os casos de Aquilino Ribeiro e Fernando Namora.
Um estudo dos processos de Miguel Torga na polícia política vai ser publicado em livro hoje, em Coimbra, no âmbito de uma colecção onde serão ainda analisados os casos de Aquilino Ribeiro e Fernando Namora. “Miguel Torga e a PIDE - A repressão e os escritores no Estado Novo”, da autoria do docente Renato Nunes, de 26 anos, será apresentado pela professora Irene Flunser Pimentel na livraria da editora MinervaCoimbra, que dá chancela à obra.
O livro refere os quatro processos do escritor na polícia política, datados de entre 1939 e 1973 e dos quais um foi processo-crime e os restantes “processos de agregação de informações sobre o Miguel Torga homem, médico e autor”, explicou Renato Nunes.
Em declarações à agência Lusa, o docente do ensino básico acrescentou que “o processo-crime data de 1939 e é relativo ao livro `O Quarto Dia da Criação do Mundo´, que foi apreendido pela então designada Polícia de Vigilância e Defesa do Estado”. “O Miguel Torga recusou sempre enviar os seus livros à censura prévia, pelo que o romance foi apreendido ‘a posteriori’, sob a acusação de obscenidade e de ser uma forma de propaganda comunista, devido à crítica política e social acutilante que contém”, adiantou.
A apreensão da obra foi acompanhada pela detenção do seu autor, tendo Miguel Torga sido preso pela PSP em Leiria - onde exercia medicina - a 30 de Novembro de 1939, seguindo-se a transferência para o Aljube, em Lisboa, onde ficou encarcerado até 2 de Fevereiro de 1940.

Mais processos
O escritor, que viria a ter outros livros apreendidos, caso da peça de teatro “Sinfonia” ou do oitavo volume do seu “Diário”, foi ainda alvo de três outros processos, um na subdirectoria do Porto, outro na inspecção de Coimbra e um terceiro na delegação de Lisboa da polícia política.
“A partir de 1939, as violações de correspondência tornam-se constantes, como o provam cópias das missivas que integram os processos, estendendo-se a vigilância à esposa do escritor e às amizades que ambos estabelecem”, sublinhou Renato Nunes.
Dos processos consta igualmente informação sobre o dinheiro que Torga ganhava no consultório e especulações acerca de quanto devia ter amealhado no banco.
“Isto mostra como o Estado fiscalizava os vários aspectos da existência de uma pessoa, numa ânsia de controlar a vida e o pensamento dos cidadãos”, esclareceu ainda o investigador, assinalando que “não eram vigiados apenas os comunistas mas todas as pessoas de pensamento liberal”.
Quando, após o 25 de Abril de 1974, Miguel Torga teve acesso a uma ínfima parte dos seus processos, ficou surpreendido com o que encontrou, escrevendo, a esse propósito, uma entrada no seu “Diário”, datada de 18 de Fevereiro de 1975.
Nesse texto, o escritor classifica os documentos coligidos pela polícia política como sendo, simultaneamente, “ridículos” e “trágicos” e descreve o arquivo sobre a sua vida como “o relato de uma autópsia”.
Miguel Torga escreveu ainda que ver ali mais de 40 anos da sua vida devassados o fazia sentir-se “reduzido a um despojo arqueológico”, recordou Renato Nunes, lendo a passagem do “Diário” durante a entrevista.
Renato Nunes, que é colaborador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20), em cuja Faculdade de Letras se licenciou em História em 2003, tem vindo a estudar os processos de outros escritores na polícia política do Estado Novo e na Direcção-Geral de Censura e está a preparar uma obra do mesmo género sobre Aquilino Ribeiro.
Não se revela assustado com o trabalho que tem pela frente, embora ainda tenha bem presentes os três anos que consumiu para preparar o volume que agora publica: “Só nos processos da polícia política consultei 455 páginas, não contabilizando a informação repetida, além de ter analisado vários relatórios da Direcção-Geral de Censura”, revelou o autor. “Miguel Torga e a PIDE”, que constitui a sua primeira publicação historiográfica, foi uma obra incentivada pelo historiador Luís Reis Torgal, “a alma deste projecto, que ainda tem muito caminho por explorar”, assegurou o autor, actualmente a leccionar em Tondela.

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Ditadura
Explicações
Para Renato Nunes, o facto de não ter vivido o período da ditadura pode ter vantagens para um investigador, nomeadamente por “permitir uma observação mais objectiva, já que é mais distanciada”. “De qualquer forma, é fundamental embrenharmo-nos nos arquivos, pois eles são a nossa melhor fonte e é neles que o Estado Novo surge sem camuflagem e sem cosmética”, afirmou, acrescentando que “quem quer realmente fazer História, não se pode deixar ofuscar pela imagem que o regime queria passar de si próprio”. Também Luís Reis Torgal considera que o livro mostra como a ditadura não teve “o carácter `original´ e `benevolente´ que se lhe quer atribuir, numa lógica `revisionista´”. O volume integra a colecção de História da editora MinervaCoimbra.


E ainda:

No Diário dos Açores

No Correio da Beira Serra

sexta-feira, maio 25, 2007

História da Farmácia

A "História da Farmácia" n'O Primeiro de Janeiro via De Rerum Natura

Em Busca da Beleza


O ciclo "Em Busca da Beleza" no De Rerum Natura, pela escrita de Helena Damião.

quinta-feira, maio 24, 2007

Territorium n.º 13



Está já disponível o n.º 13 da revista TERRITORIUM, Revista da Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança, com edição MinervaCoimbra.

Do índice, destacam-se os artigos de:

Manuel João Ribeiro - "A construção de um modelo de análise das vulnerabilidades sociais dos desastres. Uma aplicação à colina do Castelo de S. Jorge"

Fernando Rebelo - "O mar e os riscos a ele associados"

António de Sousa Pedrosa e Andreia Cristina Amorim Pereira - "Diagnóstico dos factores condicionantes da susceptibilidade face ao risco de inundação urbana no concelho de Matosinhos"

Lúcio Meneses de Almeida - "AMbiente, saúde e análise do risco ambiental. O exemplo da vigilância sanitária das praias fluviais"

Luciano Lourenço - "Incêndios florestais. Algumas reflexões sobre prevenção e mitos do combate"

Luciano Lourenço e Manuel Rainha - "As mediáticas «mãos criminosas dos incendiários» e algumas das «lições dos fogos florestais de 2005» em álbum fotográfico. Contributo para a desmistificação dos incêndios florestais em Portugal"

Maria Manuel Afonso Lopes Gouveia - "Risco de incêndio florestal no concelho de Mirandela"

Clara Sarmento e Alexandre Cardoso - "Testemunhos históricos da influência do terramoto de 1755 na laguna de Aveiro"

António Carlos Vitte e Luís Ribeiro Vilela Filho - "A urbanização, a fragilidade potencial do relevo e a produção do risco na bacia hidrográfica do Córrego Proença, Município de Campinas, Brasil"

A Génese Grega da Língua Portuguesa


Com distribuição MinervaCoimbra, foi recentemente apresentada em Lisboa, a bordo do belíssimo paquete Athena, a obra "A GÉNESE GREGA DA LÍNGUA PORTUGUESA. Sinopse vocabular", da autoria de Maria Alcina dos Mártires Lopes.

A apresentação coube ao Prof. Custódio Magueijo.

Na mesa estava também o Mecenas desta obra, o Senhor Georgios Potamianos (armador de nacionalidade grega), que desde o ínicio deste projecto se mostrou entusiasmado e interessado na revalorização da Cultura Grega, com quem o mundo ocidental contraiu relações tão fortes quanto indestrutíveis e inquestionáveis de simbiose perfeita.

Estiveram ainda presentes os Embaixadores da Grécia e de Chipre e respectivas esposas.

"A Língua Portuguesa é a herança prioritária da Língua Grega, numa percentagem de cerca de 80 por cento para um universo de vocábulos polivalentes no campo das Letras, das Artes, das Ciências, em áreas especializadas e até do nosso quotidiano — os casos de megera ou de piropo, esquilo ou polvo, energia e simpatia, osmose ou sincretismo, polícia e amnistia, a escola, entre muitos outros".

Estudar a Cultura Grega nas suas múltiplas vertentes é como estarmos na posse do nosso código genético, a partir da Mãe-Grécia. Ela permite melhor conhecimento de nós próprios, bem como a consciencialização dos outros povos no contexto europeu.






Este trabalho dirige-se a qualquer utilizador da Língua Portuguesa que tenha curiosidade e desejo de saber a origem e o sentido primeiro do vocábulo de que se está a servir.

O objectivo principal é dar a conhecer o espólio lexicográfico, de origem grega, a todo o espírito interessado em avaliar o grau quantitativo e qualitativo de herança das raízes do seu vocabulário. É o nosso património vocabular que foi transmitido em longas e sucessivas dádivas culturais.



«A Europa que somos… tem a sua tríplice raiz na Grécia, Roma e Cristianismo. […] Mas é na Grécia que mais claramente nos revemos pelo que de fundamental nos trouxe […]. O percurso do nosso saber não parte muitas vezes do saber anterior, mas é para lá que se dirige como numa árvore genealógica».

A obra está já disponível nas livrarias de todo o país.

quarta-feira, maio 23, 2007

Obra analisa o papel dos jornais no Verão quente de 1975



Com apresentação do jornalista da RTP, Carlos Daniel, as Edições MinervaCoimbra promoveram o lançamento do livro “Os jornais como actores políticos. O Diário de Notícias, Expresso e Jornal Novo no Verão quente de 1975”, da autoria do jornalista e professor universitário João Figueira.

Salientando o papel pedagógico da obra, “uma obra bastante interessante que tem a felicidade de cruzar história e jornalismo”, Carlos Daniel recordou aos presentes que se fala, no livro de João Figueira, “de um tempo diferente”, como o autor destaca na conclusão. E “esta é a ideia principal que vale a pena sublinhar”, referiu.





Há 30 anos, o exercício do jornalismo e da política, em Portugal, era uma espécie de espaço Schengen, no qual uns e outros circulavam e se exprimiam sem problemas de identidade. Era um tempo em que a política estava em toda a parte.

“Aquele jornalismo é, felizmente, muito diferente do que se pratica hoje, se calhar, fatalmente diferente em função da realidade histórica que então se vivia”, afirmou Carlos Daniel. “Acredito que quando se olha para estas histórias, algumas parecem quase anedóticas. Imaginar que o gabinete do então primeiro ministro Vasco Gonçalves pudesse escrever para um jornal a agradecer a honestidade revolucionária dos jornalistas que deixaram de publicar um documento, é algo que nos parece hoje absolutamente inverosímil e reprovável, ao mesmo tempo”, sublinhou.






Mas “era um outro tempo em que as coisas sucediam a uma velocidade vertiginosa e quem não o viveu tem aqui uma excelente oportunidade para aprender”. Até porque, continuou, “em poucos momentos a história do país se confundiu tanto com a história do jornalismo, como durante este período do Verão quente de 1975 em que “a inter-influência chega a ser bastante grande”.

Quanto à escolha dos três jornais é claro, ao longo da obra, que estes permitem ter três visões diferentes do que era aquela realidade, já que “funcionaram em campos distintos mas, do ponto de vista da investigação, complementares”. O Diário de Notícias, recorde-se, era visto como muito próximo da extrema-esquerda, o Expresso de centro-direita e o Jornal Novo como assumindo o ideário socialista.





Carlos Daniel destacou ainda as entrevistas que o autor fez aos então directores dos três jornais — Francisco Pinto Balsemão do Expresso, Luís de Barros do DN e Artur Portela Filho do Jornal Novo —, levando-os a olhar o que foram muitas das opções que então se fizeram e as consequências que daí poderão ter surgido.

“É um dos momentos mais interessantes do livro que coloca os intervenientes ao espelho da história”, afirmou, acrescentando também que “é fundamental tentar perceber que há uma herança que ficou para o jornalismo de hoje”.





Para Carlos Daniel, “alguém, algum dia, teria que perceber que a desgovernamentalização dos media públicos era essencial para a sua sobrevivência e credibilidade”. Hoje, assegurou, “vale a pena pensar num jornalismo mais equidistante, que não perca a isenção, que não perca a capacidade crítica e que não tenha medo de ter um sensibilidade ao nível da opinião para um lado ou para outro. Vale a pena, quando se lê um jornal que tem uma pluralidade de opiniões mas sabendo que na base das opções editoriais estão sobretudo critérios jornalísticos”.