sexta-feira, novembro 07, 2008
Preservar o entusiasmo dos professores é fundamental
Margarida Miranda, professora do Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi a convidada da segunda sessão do ciclo “O dever de educar”, que a Livraria Minerva está a promover no âmbito das sessões “Terças Feiras de Minerva”. A docente tem-se dedicado ao estudo da pedagogia dos Jesuítas e publicou há pouco tempo a tradução que fez da “Ratio Studiorum”, a primeira tradução moderna da obra em Portugal.
Durante a sessão Margarida Miranda lembrou o especial cuidado com que no século XVI se determinou, no âmbito da pedagogia jesuíta, que os professores deveriam ser bem tratados para que pudessem ensinar bem. Depois de se ler as recomendações feitas na obra, constantes das versões de 1586 e 1599 da Ratio, percebe-se claramente que alguns daqueles conhecimentos de pedagogia poderiam ajudar a decidir as políticas e medidas educativas de hoje.
Assim, segundo o capítulo dedicado à preservação da boa disposição dos professores, a Ratio Studiorum de 1586/B refere que “nada deve ser mais importante nem mais desejável (…) do que preservar a boa disposição dos professores (…). É nisso que reside o maior segredo do bom funcionamento das escolas (…)”. Na obra lê-se ainda que “com amargura de espírito, os professores não poderão prestar um bom serviço, nem responder convenientemente às [suas] obrigações”.
Recomenda-se a todos os professores um dia de repouso semanal – “a solicitude por parte dos superiores anima muito os súbditos e reconforta-os no trabalho” ou “quando um professor desempenha o seu ministério com zelo e diligência, não seja esse o pretexto para o sobrecarregar ainda mais e o manter por mais tempo naquele encargo. De outro modo os professores começarão a desempenhar os seus deveres com mais indiferença e negligência, para que não lhes suceda o mesmo”.
A obra aconselha também a incentivar e valorizar a produção literária dos docentes porque “a honra eleva as artes”. Além disso, “em meses alternados, pelo menos, o reitor deverá chamar os professores (…) e perguntar-lhes-á, com benevolência, se lhes falta alguma coisa, se algo os impede de avançar nos estudos e outras coisas do género. Isto se aplique não só com todos os professores em geral, nas reuniões habituais, mas também com cada um em particular, a fim de que o reitor possa dar-lhes mais livremente sinais da sua benevolência, e eles próprios possam confessar as suas necessidades, com maior liberdade e confiança. Todas estas coisas concorrem grandemente para o amor e a união dos mestres com o seu superior. Além disso, o superior tem assim possibilidade de fazer com maior proveito algum reparo aos professores, se disso houver necessidade”.
Já a versão da Ratio Studiorum de 1599, aconselha que para as letras se preparem professores de excelência: “Para conservar (…) um bom nível de conhecimento de letras e de humanidades, e para assegurar como que uma escola de mestres, o provincial deverá garantir a existência de pelo menos dois ou três indivíduos que se distingam notoriamente em matéria de letras e de eloquência. Para que assim seja, alguns dos que revelarem maior aptidão ou inclinação para estes estudos serão designados pelo provincial para se dedicarem imediatamente àquelas matérias – desde que já possuam, nas restantes disciplinas, uma formação que se considere adequada. Com o seu trabalho e dedicação, poder-se-á manter e perpetuar como que uma espécie de viveiro para uma estirpe de bons professores”.
E porque manter o entusiasmo dos professores é fundamental, “o reitor terá o cuidado de estimular o entusiasmo dos professores com diligência e com religiosa afeição” e evitar “que eles sejam demasiado sobrecarregados pelos trabalhos domésticos".
A próxima sessão do ciclo “O dever de educar” realiza-se na terça feira, dia 18 de Novembro, pelas 18h00.
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