Maria Fernanda do Amaral Soares
Com a presença de quase uma centena de amigos da autora, onde se destacaram várias individualidades ligadas à cultura em Coimbra, e admiradores da obra de Miguel Torga, decorreu na Casa Museu o lançamento do livro "MIGUEL TORGA - O Poeta Pintor".
De autoria da Dra. Maria Fernanda do Amaral Soares, este livro inaugura a Colecção Casa Miguel Torga.A capa foi concebida pela artista plástica Ana Rosmaninho.
Esta parceria de edição conta com a chancela da Câmara Municipal de Coimbra, Casa Museu Miguel Torga e Edições MinervaCoimbra.A apresentação da obra esteve a cargo da Conservadora da Casa Museu, Profª. Cristina Robalo Cordeiro. Para além da autora, e da apresentadora, a sessão contou ainda com Dra. Isabel de Carvalho Garcia (MinervaCoimbra), a quem couberam as palavras inaugurais e com a Vice-Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Profª. Maria José Azevedo Santos, que encerrou a sessão.
Deixamos aqui um breve excerto da belíssima apresentação de Cristina Robalo Cordeiro:
" [...] Neste seu ensaio, Maria Fernanda Soares quis pontuar a sua reflexão em 6 etapas a partir de 12 poemas de Miguel Torga, privilegiando a dimensão telúrica da obra como um grito (mas também um suspiro, uma exclamação ou uma prece) saídos das entranhas mais fundas do ser poético de Miguel Torga,
Por aqui perpassa ao mundo, as estações do ano, as etapas com que a natureza vai vestindo ou despindo a paisagem. Perpassam pintores – Falcão Trigoso, Frederico, Aires, Silva Porto, Emílio de Paula Campos, José Malhoa, Raimundo Machado da Luz, António Melo – recantos da nossa terra em gestos e afectos de quem trabalha a (nossa) terra - a vindima, o gesto do semeador, a terra lavrada, a seara, o quadro outonal, a planura do Alentejo, a serra transmontana, o bosque, o ninho –, momentos únicos de cor e de luz, de uma alvorada em que o contorno do vida começa a despontar ou de um entardecer que a embala e adormece.
Não caiu a autora na tentação de apenas aproximar a superfície (estilística) dos poemas da mera textura plástica de telas famosas, de tão-só procurar similitudes que se exprimem na superfície de um desenho, de uma forma, de uma matéria ou de uma cor. O seu desejo foi tocar a sintonia de sensibilidades e de emoções que a natureza acorda em almas destinadas a olhar e a ver o mundo por dentro. Na imagem captada pelo pintor como na expressão sensível com que o poeta a diz se ultrapassa pois a coisa vista, o mero e aparente espectáculo do mundo que se oferece a um olhar que vê ou a uma mão que escreve: aqui, é o próprio mundo que, no tangível ou no intangível da vida, na exuberância ou na tristeza, na sensualidade ou na nostalgia, está fenomenologicamente perante nós, tão pudico e frágil quanto palpitante de desejo.
E é neste diálogo das musas, neste cruzamento de duas formas de escrever o mundo, de o fixar em representação que o tornam tão perene e tão único na essência do que foi quanto mutável e múltiplo na substância do que é – que cada um de nós se atreve a inscrever-se (como se sujeito dele fosse), emprestando-lhe o nosso próprio engenho e emoção, a nossa própria história carregada de todas as (nossas próprias) palavras e imagens em busca de sentidos. Palavras e imagens livres, talvez se calhar até resistentes ao sentido, não por ausência mas por excesso. Hieróglifos espirituais que não se oferecem a uma qualquer (insensível ou mecânica) explicação ou decifração.
Miguel Torga, o poeta pintor é um ensaio feito com a inteligência do coração. Cuidadosamente escrito e composto, nele a autora encontra não um Torga solitário e ensimesmado, mas um Torga aberto ao mundo e sensível à beleza e à força de uma natureza de que se sente irmão. Um Torga que se encanta e se emociona, que vibra e respira ao ritmo da vibração e da respiração do mundo.[...]"
Maria Fernanda do Amaral Soares, Cristina Robalo Cordeiro,
Maria José Azevedo Santos, Isabel de Carvalho Garcia
António Arnaut, Isabel de Carvalho Garcia, Maria Fernanda do Amaral Soares, António Pedro Pita
Maria Fernanda do Amaral Soares, Francisco Soares de Oliveira |
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