segunda-feira, março 31, 2008

Terças-Feiras de Minerva iniciam ciclo “A Mente: saúde e bem-estar”

As Edições MinervaCoimbra, a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Mental (SPESM) e o Serviço de Violência Familiar do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra vão promover um ciclo intitulado “A Mente: saúde e bem-estar”, integrado nas Terças-Feiras de Minerva. Para um envolvimento mais informado da comunidade, das famílias e do cidadão.

As sessões terão lugar sempre às 21h30, na Livraria Minerva (Rua de Macau, 52 – Bairro Norton de Matos), em Coimbra, sendo a primeira no próximo dia 1 de Abril. Subordinada ao tema “Perturbações mentais comuns e princípios dos cuidados em Saúde Mental”, esta primeira sessão tem como convidados o Dr. Álvaro Carvalho (Psiquiatra), Lisboa, e o Dr. António Leuchner (Psiquiatra), Porto.

O ciclo prossegue a 15 de Abril com o tema “Exclusão, solidão e Saúde Mental”, com as presenças do Dr. Fidalgo de Freitas (Psiquiatra), Viseu, e da Dr.ª Luísa Magalhães (Assistente Social), Setúbal.

A 29 de Abril será discutida a “Violência familiar e Saúde Mental”, com as contribuições do Dr. João Redondo (Psiquiatra), Coimbra, e da Prof.ª Doutora Madalena Alarcão (Psicóloga), Coimbra.

O ciclo “A Mente: saúde e bem-estar” continua em Maio, com uma sessão no dia 13 dedicada à “Promoção da Saúde Mental: uma perspectiva desenvolvimental”. Participam nesta sessão a Dr.ª Beatriz Pena (Pedopsiquiatra), Coimbra, e o Prof. Doutor Rui Paixão (Psicólogo), Coimbra.

O ciclo termina no dia 27 de Maio com uma sessão dedicada ao tema “Saúde Mental: estratégias para a educação e sensibilização do público” que contará com as presenças do Dr. Fernando Almeida (Médico de Saúde Pública), Coimbra, Enf.º Hélder Lourenço, Viseu, e do Prof. Doutor Adriano Vaz Serra (Psiquiatra), Coimbra.

Todas as sessões serão comentadas pelo Prof. Doutor João Maria André (Professor de Filosofia e Encenador), Coimbra.

A iniciativa conta com os apoios do Grupo Violência: informação, investigação, intervenção, Rotary Club de Coimbra Santa Clara, Diário de Coimbra, Diário As Beiras, Hotel Dona Inês e Lizarran Coimbra.



“Os conceitos de saúde mental abrangem, entre outras coisas, o bem-estar subjectivo, a auto-eficácia percebida, a autonomia, a competência, a dependência intergeracional e a auto-realização do potencial intelectual e emocional da pessoa. Numa perspectiva transcultural, é quase impossível definir saúde mental de uma forma completa. De um modo geral, porém, concorda-se quanto ao facto de que a saúde mental é algo mais do que a ausência de perturbações mentais.
É importante compreender a saúde mental e, de um modo mais geral, o funcionamento mental, porque aí reside a base sobre a qual se formará uma compreensão mais completa do desenvolvimento das perturbações mentais e comportamentais… Está a tornar-se cada vez mais claro que o funcionamento mental tem um substrato fisiológico e está indissociavelmente ligado ao funcionamento físico e social e aos ganhos em saúde (…).
Os cuidados a pessoas com perturbações mentais e comportamentais reflectiram sempre os valores sociais predominantes em relação à percepção social dessas doenças. Ao longo dos séculos, os portadores de perturbações mentais e comportamentais foram tratados de diferentes maneiras.
Foi-lhes atribuído um estatuto elevado nas sociedades que acreditavam serem eles os intermediários junto dos deuses e dos mortos. Na Europa medieval, foram maltratados e queimados na fogueira… Na Europa, o século XIX foi testemunha de tendências divergentes. Por um lado, consideravam-se as doenças mentais como tema legítimo para a investigação científica: a psiquiatria prosperou como um ramo da medicina e as pessoas com perturbações mentais eram consideradas doentes da medicina. Por outro lado, os portadores de perturbações mentais, como os de muitas outras doenças e formas indesejáveis de comportamento social, eram isolados da sociedade em grandes instituições de tipo carcerário, os hospitais estatais para doentes mentais, outrora conhecidos como asilos de loucos. Essas tendencias vieram a ser exportadas para a África, as Américas e a Ásia. Durante a segunda metade do século XX, ocorreu uma mudança no paradigma dos cuidados em saúde mental, devido, em grande parte, a três factores independentes:
• A psicofarmacologia fez progressos significativos, com a descoberta de novas classes de drogas, particularmente neurolépticos e antidepressivos, bem como foram desenvolvidas novas modalidades de intervenção psicossocial.
• O movimento a favor dos direitos humanos converteu-se num fenómeno verdadeiramente internacional, sob a égide da recém-criada Organização das Nações Unidas, e a democracia avançou em todo o globo, embora a diferentes velocidades (Merkl, 1993).
• Componentes sociais e mentais foram incorporados com firmeza na definição de saúde da recém-criada OMS, em 1948”.

in “Relatório Mundial da Saúde. Saúde mental: nova concepção, nova esperança” (Cap. 3. A Resolução de problemas de Saúde Mental. Um paradigma em mudança)


“Os estudos epidemiológicos realizados nos últimos 15 anos provam que as perturbações psiquiátricas e os problemas de saúde mental se tornaram a principal causa de incapacidade, e uma das principais causas de morbilidade, nas sociedades actuais. Em todo o mundo, as perturbações mentais são responsáveis por uma média de 31% dos anos vividos com incapacidade, valor que chega a índices ao redor de 40% na Europa (WHO, 2001). Segundo o estudo “The Global Burden of Disease” realizado pela Organização Mundial de Saúde e por investigadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, utilizando como medida o número de anos perdidos por incapacidade ou morte prematura, situações como as perturbações depressivas e as doenças cardiovasculares estão rapidamente a substituir as doenças infecto-contagiosas. Esta “transição epidemiológica” tem vindo a ocorrer, na maioria das vezes, sem a devida consideração dos especialistas no planeamento de serviços e programas de saúde.
A carga das perturbações mentais como a depressão, dependência do álcool e esquizofrenia, foi seriamente subestimada no passado, devido ao facto de as abordagens tradicionais apenas considerarem os índices de mortalidade, ignorando o número de anos vividos com incapacidade provocada pela doença. Embora as perturbações mentais causem pouco mais de 1% das mortes, mais de 12% da incapacidade por doenças em geral a nível mundial deve-se a estas perturbações (este número cresce para 24% na Europa).
Das 10 principais causas de incapacidade, cinco são perturbações psiquiátricas. As previsões apontam para um aumento significativo das perturbações mentais no futuro. O envelhecimento da população tem levado a um aumento da frequência de quadros demenciais e da consequente procura de cuidados especializados. Por outro lado, a faixa etária economicamente activa sofre forte impacto de graves problemas sociais como o desemprego, violência, pobreza e desigualdade social, o que a torna muito mais vulnerável a quadros relacionados com o stress. Apesar da alta prevalência das perturbações mentais os mitos sobre a doença mental e a estigmatização do doente continuam a persistir, mesmo entre profissionais da área de saúde, sendo ainda muito grande o desconhecimento sobre o progresso ocorrido nas últimas décadas quanto ao diagnóstico e, sobretudo, ao tratamento destas perturbações. Por esta razão, em muitos países, a saúde mental tem sido uma área muito negligenciada dentro do conjunto dos serviços de saúde e o doente mental ainda hoje continua a ser vítima de vários tipos de discriminação.
Incluir a saúde mental na agenda de saúde pública e assegurar a todas as populações o acesso a serviços de saúde mental modernos e de qualidade tornou-se, assim, nos dias de hoje, um objectivo inadiável em todo o mundo”.

in “Reestruturação e Desenvolvimento Dos Serviços de Saúde Mental em Portugal. Plano de Acção 2007 – 2016”. Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental” (pag 12)

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