quarta-feira, junho 13, 2007
Monólogo a Dois
Decorreu em Lisboa o lançamento do livro de poesia Monólogo a Dois, de Ana Medina Mesquita, que contou com apresentação de António José Teixeira, para quem esta obra “tem um mapa que vale a pena ler porque nele se inscreve não apenas uma rota de interpretação, mas também uma atitude de escrita e uma percepção aguda de como as palavras se soltam à interpretação sem que deixem de nos pertencer. O Monólogo a Dois vive dessa riqueza significante que temos o privilégio de partilhar”.
Nesse mapa referido por António José Teixeira, “percebemos como o exercício poético se fez ao ritmo das escolas por onde Ana Mesquita tem conhecido o mundo das letras e da natureza humana, dos 14 anos no Liceu Passos Manuel, à passagem pelo ISEG até ao ISPA onde agora aguça o engenho psicológico para se perceber, e nos perceber, além da superfície. A sua poesia não é um testemunho escolar, é sobretudo uma descoberta de si, uma aventura interior muito sensitiva. E também uma abordagem dos outros, de expectativas, silêncios e respostas nem sempre à altura dos desejos ou da busca de verdade, algumas vezes procura de absoluto, mas quase sempre incerteza, dúvida e complexidade”.
Segundo António José Teixeira, a escrita de Ana Mesquita “aflora uma sensibilidade à flor da pele, não que seja superficial, mas transbordante, cheia de afagos, cheiros, cicatrizes, dor e compaixão. Os seus temas são os da aventura pessoal, encaixam nas suas etapas de crescimento e maturidade. Boa parte das provas de vida de que se faz este livro data dos 14 anos e é bem perceptível uma maturidade pouco comum. O que para mim apenas comprova que, desde a mais tenra idade, foi sempre a Ana que tomou conta de nós, adultos. Senhora do seu nariz, perscrutava as palavras e os gestos dos mais velhos, os seus êxitos e fracassos, os dilemas e as inseguranças de quem seria pressuposto ter menos dúvidas”.
Observadora nata, refere ainda, “Ana Mesquita interroga-se sobre os mistérios e ilusões que nos alimentam o sonho. Sempre atenta, sempre alerta, move-a a vontade de conhecer, de perceber, interroga-se sem se esquecer de ‘argumentar e retorquir’. Sabe que
‘o mundo continua a girar e com ele a vontade também’.
Este questionamento continuado, curiosidade de si e dos outros, continua António José Teixeira, “mostra como se põe em causa, como se expõe e desafia, a si e aos outros, a si – com e sem os outros, a si – apesar dos outros. É este o sortilégio da poesia. É este o percurso de quem procura a voz, ou as vozes, as multiplicidades do ser, incursões quase sempre sinónimo de procuras de sentido. Há uma nítida ânsia de viver, um gosto de viver arriscado, brilho nos olhos”.
Perguntado certa vez sobre o porquê de escrever, recorda ainda o apresentador, “o poeta Saint-John Perse respondeu singelamente: «Para viver melhor». Se me permitem, nada de mais sábio e nobre. E é também isso que se nota no exercício poético de Ana Medina Mesquita”.
Em suma, Monólogo a dois é, para António José Teixeira, “um vulcão dos sentidos, dos sentidos da vida, roteiro de travessias pouco lineares, de saudades e renascimentos”.
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