domingo, outubro 22, 2006

O Indeciso

As Edições MinervaCoimbra acabam de editar o segundo volume da Colecção de Teatro Austríaco. Trata-se da obra "O Indeciso. Comédia em três Actos", de Hugo von Hofmannsthal, com versão portuguesa, introduçã0 e notas de LUDWIG SCHEIDL.





Hugo von Hofmannsthal impôs-se muito cedo como poeta e autor de dramas líricos, com a marca do Simbolismo, do Esteticismo e do Impressio­nismo: a musicalidade da sua linguagem poética é uma das principais características deste poeta do decadentismo finissecular.
Em “O Indeciso” a figura central – o recém desmobilizado conde Hans Karl Bühl – mantém os seus hábitos aristocráticos num período histórico de grandes mudanças. Este anacronismo só pode aceitar-se pela confiança e simpatia que o protagonista inspira.
Um aspecto a ter em conta nesta comédia de carácter são as imprecisões históricas que estruturam o texto. Referimos algumas datas – 1912, 1914, 1917 – que referenciam o decurso da I Guerra: a desmobilização do protagonista é uma consequência de ter ficado soterrado, juntamente com o seu pelotão, algures nas trincheiras. O drama decorre em 1917, mas é sugerido que a guerra terminou e que se mantêm as antigas estruturas políticas do velho Império, como seja a manutenção das duas Câmaras parlamentares. A verdade é que no final da guerra (Nov. 1918) se dá o colapso e o desmembramento do Império: na Áustria é proclamada a República e a nova Constituição prevê a abolição da nobreza e a proibição expressa do uso de títulos nobiliárquicos.
A acção centra-se na figura de Hans Karl: benévolo e indeciso é deste aspecto da sua personalidade de que todos se querem aproveitar.


Hugo von Hofmannsthal - TÁBUA CRONOLÓGICA
1874 - 1 de Fevereiro: Nascimento de Hugo Laurenz August Hofmann, Edler von Hofmannsthal
1884-1892 - Frequência do Liceu Académico de Viena
1890 - Estreito contacto com o círculo literário do Café Griensteidl (Jovem Viena). Encontros regulares com Arthur Schnitzler, Richard Beer-Hofmann, Felix Salten e Hermann Bahr. Primeiro encontro com Stefan George. Publicação do drama-lírico Gestern (Ontem)
A poesia lírica de Hofmannsthal é composta entre 1891 a 1901.
Os dramas líricos são desta fase poética, de que igualmente destacamos pequenos esboços em prosa e novelas, com os seguintes títulos: Das Märchen der 672. Nacht (1894), Reitergschichte (1898), Das Erlebnis dês Marschalls Bassompierre (1900) e ainda o fragmento do romance Andreas oder Die Vereinigten (1911-18)
1892 - Segundo encontro com Stefan George. Colaboração com a revista esteticista Blätter für die Kunst (publicação de Der Tod des Tizian/A Morte de Ticiano)
1893 - Conclusão de Der Tor und der Tod (O Louco e a Morte)
1894-1895 - Serviço militar
1897 - Publicação dos dramas líricos, Das Kleine Welttheater (O Pequeno Teatro do Mundo), Die Frau im Fenster (A mulher na janela), Der weisse Fächer (O leque branco), Die Hochzeit der Sobeide (O casamento de Sobeide), Der Kaiser und die Hexe (O Imperador e a Bruxa)
1899 - Publicação de Der Tor und der Tod
1900 - Estadia em Paris. Contactos com Maeterlinck, Rodin e Richard Strauss
1900-1901 - Dissertação de doutoramento (Universidade de Viena): Studie über die Entwicklung des Dichters Victor Hugo (Um Estudo sobre a evolução do Poeta Victor Hugo)
1901 - Planos de trabalho: Calderon - La vida es sueño
1902 - Publicação de Ein Brief (Uma Carta, assinada por Lord Chandos): “Esta é a carta que Philipp Lord Chandos, o filho mais novo do Earl of Bath escreveu a Francis Bacon, mais tarde Lord Verulam e Viscount Albans, para se desculpar junto deste amigo pela completa renúncia à actividade literária… Resumindo, o meu caso é o seguinte: perdi por completo a capaci¬dade de pensar ou de falar sobre qualquer coisa com nexo (…) as palavras abstractas, de que a linguagem se tem necessariamente de servir para apresentar um testemunho, desfaziam-se na minha boca como cogumelos bolorentos”
1903 - 3 de Outubro: Estreia em Berlim de Elektra (encenação de Max Reinhardt)
1906 - Março: rompimento com Stefan George. Estadia em Berlim: encontro com Richard Srauss. Primeira versão em prosa de Jedermann (Todo-o-Mundo)
1907 - Primeira versão do romance Andreas. Publicação de Die Gesammelten Gedichte (Poesias Completas), Kleine Dramen (Pequenos Dramas, em dois volumes) e Die Prosaischen Schriften Gesammelt (Escritos em Prosa, em dois volumes)
1908 - Estreia de Der Tor und der Tod
1910 - Conclusão de Der Rosenkavalier (O Cavaleiro da Rosa)
1911 - Estreia em Dresden de Der Rosenkavalier. Estreia em Berlim de Jedermann; primeira publicação integral do texto pela editora S. Fischer
1914 - 26 de Julho: mobilização geral. Setembro: primeiros escritos políticos e sobre a guerra
1916 - Primeiros apontamento de Ad me ipsum. Estudo sistemático de Molière: “Foi marido, director de teatro, ludibriado, cómico; a verdade é que era indizivelmente solitário, mas, claro está, continuamente entre amigos, cercado do ódio de literatos incapazes, maus actores, cortesãos insolentes, intriguistas hipócritas. Mas era uma cabeça profunda, uma das cabeças mais profundas e fortes do seu século, não, de todos os séculos. (…) Inclinamo-nos com respeito perante (…) o mais válido representante de uma das grandes nações da Europa”
1917 - Publicação do terceiro volume de Die Prosaischen Schriften Gesammelt (Escritos em Prosa)
1918 - Estudo sistemático de Calderon de la Barca
1919 - 10 de Outubro: Estreia em Viena de Die Frau ohne Schatten
1920 - 22 de Agosto: início dos Festivais de Salzburgo com a representação de Jedermann (Todo-o-Mundo)
Breve transcrição de um artigo (sob a forma de entrevista) sobre a instituição dos Festivais:
– “Quereis limitar-vos ao público alemão?
– Temos a esperança que os nacionais de outros países venham até nós procurar o que não será fácil encontrar noutras partes do mundo.
– Já que se trata de Festivais, porquê Salzburg?
– A etnia bávaro-austríaca foi desde sempre o suporte da capacidade teatral de entre todos os povos alemães. Tudo o que vive no palco alemão radica aqui, tanto o elemento poético, como o elemento cénico (…).
– Não contribuem mais para o conhecimento mútuo das nações dezenas de milhar de quilómetros de caminhos de ferro, do que todos os teatros e bibliotecas do mundo? Pelo contrário: os caminhos de ferro tornam os homens desconhecidos uns dos outros. As nações devem conhecer-se mutuamente no que nelas é supremo e não no seu trivial”
1921 - 8 de Novembro: Estreia em Munique da Comédia Der Schwierige (O Indeciso)
1922 - Estreia em Salzburgo (Kollegienkiche) de Das Salzburger Grosse Welttheater (O Grande Teatro do Mundo de Salzburgo)
1923 - 16 de Março: Estreia em Viena de Der Unbestechliche (O Incorrupto)
1924 - Conclusão da primeira versão da tragédia Der Turm (A Torre)
1925 - Publicação de Gesammelte Werke (Obras Completas) em seis volumes
1926 - Representação do prólogo para a peça Baal de B. Brecht
1927 - Planos para Arabella
Publicações: Das Schrifttum als geistiger Raum der Nation, Wert und Ehre deutscher Sprache, Der Turm (A Torre, nova versão)
1928 - 4 de Fevereiro: estreia em Munique e Hamburgo de Der Turm (nova versão)
6 de Junho: Estreia em Dresden de Die ägyptische Helena (A Helena no Egipto)
1929 - Conclusão de Arabella 15 de Julho: morte de Hugo von Hofmannsthal
1949 - Início da publicação das Obras Completas de Hugo von Hofmannsthal: Gesammelte Schriften in Einzelausgaben (Hrsg. Herbett Steiner), Bermann-Fischer, Stockholm, S. Fischer, Frankfurt am Main




O primeiro volume da Colecção de Teatro Austríaco é a obra "Suave Ira ou O Maquinista dos Ouvidos. Uma Sonata Teatral", de Gert Jonke, com versão portuguesa, introdução e notas de LUDWIG SCHEIDL.

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