Foi recentemente apresentado na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra, o livro «CONTOS MÁGICOS» de autoria de Natália Queirós (juíza jubilada), com a chancela das Edições MinervaCoimbra. Com intervenções de Isabel de Carvalho Garcia e de Manuel Cidalino Madaleno, que apresentou a obra, contou ainda com a intervenção do juiz Américo Santos (colega de profissão) que de uma forma espontânea quis homenagear Natália Queirós.
As qualidades da autora foram a tónica de todas as intervenções em que foram salientados o seu elevado sentido de humanismo, de cidadania, de solidariedade, de força de vontade e profissionalismo.
Natália Queirós, sensibilizada, agradeceu a todos os presentes.
A apresentação foi complementado por um concerto pelo Quarteto de Cordas "Ars Camerae" e a leitura de alguns excertos dos contos agora publicados, por Marta Eufrásio, Dulce Sancho,Maria João Espírito Santo e Teresa Paixão.
O livro Contos Mágicos de Natália Queirós é composto por 5 contos em que se tempera a dureza da realidade da vida com algum sonho e muita sensibilidade.
A autora tenta aproveitar a magia da Natal com o potencial de sensibilização que lhe assiste, para dar realce a alguns desajustes sociais tão frequentes
na nossa sociedade, tais como a solidão, o desamparo da terceira idade, e o êxodo do campo para a cidade e estrangeiro com as naturais consequências.
Deixamos aqui a apresentação de Manuel Cidalino Madaleno:
«Começarei por recordar que passou recentemente um ano sobre o momento em que estivemos aqui, no lançamento da obra da Dr.ª Natália, “Um legado de Petrarca”, obra na qual revela todo o seu engenho no domínio da expressão maior da técnica e da arte poética, que é o soneto. E que passaram anteontem dois anos sobre o lançamento, em Cantanhede, de uma outra obra sua, de dramaturgia infanto-juvenil, à qual chamou Brincando ao faz de conta – e que é um trabalho a todos os títulos brilhante, cuja leitura eu recomendo vivamente. Perante a constatação de que a Dr.ªNatália – para além de todas as vicissitudes e do seu imenso comprometimento em exigentes tarefas de cidadania – dá à estampa uma obra por ano, eu não posso deixar de saudar uma tão grande demonstração de vitalidade e de versatilidade literária desta jovem escritora.
«Começarei por recordar que passou recentemente um ano sobre o momento em que estivemos aqui, no lançamento da obra da Dr.ª Natália, “Um legado de Petrarca”, obra na qual revela todo o seu engenho no domínio da expressão maior da técnica e da arte poética, que é o soneto. E que passaram anteontem dois anos sobre o lançamento, em Cantanhede, de uma outra obra sua, de dramaturgia infanto-juvenil, à qual chamou Brincando ao faz de conta – e que é um trabalho a todos os títulos brilhante, cuja leitura eu recomendo vivamente. Perante a constatação de que a Dr.ªNatália – para além de todas as vicissitudes e do seu imenso comprometimento em exigentes tarefas de cidadania – dá à estampa uma obra por ano, eu não posso deixar de saudar uma tão grande demonstração de vitalidade e de versatilidade literária desta jovem escritora.
O título do livro que hoje
aqui nos conduziu, Contos mágicos, corresponde, em meu entender, a uma
escolha duplamente judiciosa, por ser bem inspirada no que concerne à essência
dos cinco trabalhos que reúne; e por ser bem reveladora da forma como a Dr.ª
Natália Queirós olha para a vida e para o Mundo – como algo supinamente
maravilhoso, a que nem as mais frequentes e duras adversidades conseguem
retirar sequer uns pozinhos de magia.
Do ponto de vista
literário, por estes Contos mágicos perpassam todos os ingredientes que
são transversais à obra da Dr.ªNatália, aqueles que, digamos, constituem o seu ADN enquanto escritora, e
espelho daquilo que é enquanto pessoa. Desde logo – e a despeito da sua vastíssima
e eclética cultura – ou talvez por isso mesmo – consegue o feito,
literariamente raro, de falar de coisas complicadas com uma clareza e uma
simplicidade desconcertantes. Esta simplicidade assenta numa escrita sem
barrocos enfeites, de uma grande correção formal, e num evidente cuidado na
avaliação e na metódica eleição de cada uma das palavras ou expressões, de tal
modo que se torna evidente para o leitor que nada, nestes textos, se encontra
por acaso. Tudo neles é intencional. Tudo neles cumpre o desígnio essencial de
garantir que a sua mensagem é eficazmente acessível a todos.
E que mensagem é esta?
É, essencialmente, a de que
apenas o sonho nos concede a faculdade de removermos os obstáculos à
felicidade. É a da importância de sermos capazes de sublimar as vicissitudes a
que estamos sujeitos através da perseverança num olhar otimista sobre o mundo e
sobre as maravilhas da Vida. É a apologia da imbuição dos verdadeiros valores,
do primado dos sentimentos profundos, dos laços de família indestrutíveis, da
fidelidade às amizades sólidas. É o retorno aos fundamentos da nossa cultura,
liberta dos hábitos consumistas que nos roubam o prazer dos pequenos gestos,
que nos subtraem o usufruto da felicidade que se realiza nas pequenas-grandes
coisas, que só a futilidade reinante converte em coisas menores.
Numa época em que, mesmo
muitas crianças das aldeias já nem sequer sabem o que é uma vaca ou uma galinha
– e em que pensam que o leite e os ovos são produzidos em fábricas – os
personagens destes Contos mágicos remetem-nos para a fascinação para
essas coisas “menores”, como o são as alegrias simples do contacto com a
natureza e a fruição dos afetos dos avós que ainda têm tempo, memória e
imaginação para contar lindas histórias. Para coisas cujo sortilégio nos é
revelado pelo Manelito – que vive com o avô a
aventura do deslumbramento da descoberta das coisas das terra e dos animais, e que, com seis anitos, “sabia
o nome de tudo o que era erva, flor ou fruto do seu quintal e da serra ao
redor, bem como dos animais e bicharada mais frequente”, e pelo Pedrinho –
que nos remete para o encanto do “seroar” em família. Era a cultura dessa
sensibilidade que o habilitava a fruir plenamente da magia dos grandes espaços,
do ar livre, da luz e do colorido das flores e dos campos, “das correrias por sobre as moitas de margaçal e de
malmequeres brancos”. Da magia do Natal sem árvore de Natal, mas na encantada
intimidade familiar do presépio. De um Natal em que “os meninos, na sua
humildade, não pedem brinquedos caros, nem bens materiais”, mas tão somente
amor, beleza e luz.
Não se trata, nestes Contos
mágicos, de fazer a abonação do retorno aos valores de uma ruralidade
conservadora. Trata-se, ao invés, de valorizar as virtudes esquecidas de um
tempo longínquo, que seria intelectiva e espiritualmente saudável tornar
presente. Trata-se de demonstrar, com um enorme sentido pedagógico, que é
possível e salutar viver o progresso da urbanização da sociedade, conciliando
harmoniosamente o que de positivo existe em cada uma das realidades.
Servindo-se da sua
admirável capacidade criativa e de uma aguçada inteligência da ironia –
qualidades que atingiram o esplendor em Brincando ao faz de conta – a
autora projecta na sua obra o seu caráter generoso, sonhador, romântico e
nobre, colocando em cena personagens edificantes, que instituem diálogos
carregados de sensibilidade e de emoção.
Nestes Contos mágicos,
as suas figuras, independentemente da sua idade ou da sua história
de vida, são sempre plenas de jovialidade e apresentadas de forma
enternecedora. Não há adversidades da vida que consigam esmorecer nos seus
rostos, por mais enrugados, a alegria de viver; não há revezes que impeçam a
avó Rosinha de ser “como a pedra da igreja, que mesmo envelhecida é sempre
bonita”; não há solidão ou sofrimento que retire a doçura dos olhares. E,
ainda que, como no caso do Fidalgo da Estrela, a vida se apresente sob o
ferrete de uma carga dramática quase insustentável, onde, aparentemente, não
haverá mais lugar para qualquer réstia de esperança, desponta, num crescendo de
“suspense” – que convoca toda a emoção do leitor e o deixa colado à leitura,
ansioso por conhecer o fim, mas desejando que ele nunca chegue – um desfecho de
uma tão intensa quanto inopinada felicidade, que atinge o paroxismo dos afetos.
De facto, na escrita da
Dr.ª Natália, a suavidade da ternura parece um estado de alma permanente. Um
estado de alma no qual nunca é legítimo deixar de ter esperança – porque esta
se revela sempre uma força que opera de forma mágica: é a força da magia da fé,
da magia do amor e da magia da vida…
Lê-la é, a todos os
títulos, salutar: a abrangência da sabedoria que nos revela torna a leitura
apropriada tanto para fazer crescer crianças e adolescentes como para fazer
reflectir os adultos, por mais maduros que sejam.
A Dr.ª Natália costuma,
sempre com um encanto muito peculiar, reivindicar para si o direito a uma boa
dose de “loucura saudável”, que tanta falta faz a todos nós. Mas serão a
sabedoria e a loucura compatíveis? É na resposta a esta pergunta que aqui, mais
uma vez, esta encantadora Senhora consegue ser fiel a este seu desígnio: de facto,
pouco haverá de mais saudavelmente louco do que o sonho em que funda todos os
seus tesouros de sabedoria.
Afinal, como diz a Avozinha
do Bolo de Pedra: “Só não se perde o que se não
chega a ter. Tudo o que se vai ganhando no caminho da vida, se vai perdendo
como a própria vida. Só o bem que se faz é eterno porque é assente por Deus no
grande livro do céu!”»
Natália Queirós natural de Lisboa, radicou-se há longa data em Coimbra. Liceniou-se em Direito e ingressa a seu tempo na judicatura judicial, função de que ora se encontra jubilada. Independentemente das várias tarefas e funções que vem exercendo teve, desde sempre, a imperiosa necessidade de escrever (não só poesia). Cumprindo a ingência desta vocação tem vindo, após a jubilação, a tentar materializá-la.
Desta forma, e sendo as crianças e a juventude o terreno a que entende dever dar-se particular atenção na formação literária e de lingua pátria começou por, num período de cinco anos e em regime de puro voluntariado com a participação de alunos do Colégio dos Órfãos de S. Caetano, criar e manter um pequeno Jornal “o Colégio” cujos modestos donativos revertiam a favor daqueles.
Foi uma actividade gratificante e útil durante o tempo que foi possível.Em simultâneo, durante o ano 2005, colaborou com a Antena 2 no programa “Sarabanda”, da responsabilidade de Judite Lima, com a rubrica “Máscaras” – Crónicas sobre assuntos hodiernos de vária índole.
Entretanto e sentindo, desde sempre, o teatro como um outro meio priveligiado de cultura a inserir na formação dos jovens criou, com o aval do respectivo município, o Grupo de Teatro Infanto-Juvenil da Biblioteca Municipal de Cantanhede. No contexto desta actividade e na ausência de literatura adequada foi escrevendo as respectivas peças, nove das quais integram o seu primeiro livro – “Brincando ao Faz de Conta” – peças na generalidade escritas em verso, tipo redondilha maior, para melhor memorização pelos jovens actores e com uma forte componente cultural e formativa.
Em 2011 publicou o livro de sonetos Um Legado de Petrarca.
Publica agora Contos Mágicos.
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