José Alberto Garcia, Jorge Cravo, Isabel de Carvalho Garcia,
Jorge Serrote (presidente da DG-AAC) e Luís Alcoforado (presidente da Turismo de Coimbra)
Jorge Serrote (presidente da DG-AAC) e Luís Alcoforado (presidente da Turismo de Coimbra)
Um espectáculo que reuniu vários grupos da Academia recordou, sábado à noite, a canção de Coimbra na década de 60, tendo como mote o livro de Jorge Cravo "A Canção de Coimbra em tempo de lutas estudantis (1961-1969)", das Edições MinervaCoimbra, com o apoio da Empresa Municipal Turismo de Coimbra, EM e da Direcção Geral da AAC.
Com o subtítulo "A vertente tradicional em época de mudanças e o Movimento das Trovas e Baladas como Canto de Intervenção Académico (por ocasião dos 40 anos da Crise Académica de 1969)", o livro de Jorge Cravo sugere Outubro de 1969 como o culminar das acções do Movimento Associativo e Estudantil de Coimbra, iniciado em Abril. Recorde-se que foi naquele mês que se registou a mobilização militar coerciva dos principais dirigentes académicos.
"Quando se abordam os anos 60 da Canção de Coimbra, não os podemos reduzir ao Movimento das Trovas e Baladas, pois esta Canção não se limitou a enveredar por esse caminho. Também a sua linha mais tradicional sofreu um "despertar" para a necessidade de renovar a música de Coimbra para além do Canto de Intervenção. De facto, as tendências tradicionalistas desenvolver-se-iam por três campos ideológicos, acabando assim por revelarem quem era quem na renovação da vertente mais tradicional. Assim, ao longo da década de 60, cantores como Lacerda e Megre, Casimiro Ferreira, Barros Madeira e João Farinha, davam continuidade a uma tendência clássica; Fernando Gomes Alves, numa vertente influenciada por Fernando Machado Soares (compositor e intérprete dos anos 50), dava continuidade salutar às influências da música tradicional portuguesa no repertório coimbrão; Armando Marta (1940-2007) e António Bernardino (1941-1996), partindo daquela linha mais clássica, viriam a situar-se muito para além da repetição enfadonha de um repertório velho, gasto e estafado, com uam incursão por temas mais interventivos no final da década e no dobrar dos anos 70; enquanto José Miguel Baptista e José Manuel dos Santos (1943-1989) se desalinhavam de uma "linhagem" mais conservadora e ortodoxa e apareciam com gravações algo surpreendentes na linha tradicional, sob o ponto de vista da composição melódica e harmónica, às quais não terão sido alheias, respectivamente, as contribuições dos guitarristas Eduardo e Ernesto Melo, e de Nuno Guimarães (1942-1973).
Quanto ao Canto de Intervenção, teve como principal mentor a figura de José Afonso (1929-1987) e seu principal «cantor de serviço», Adriano Correia de Oliveira (1942-1982), sem esquecer a guitarra de António Portugal (1931-1994) e a poesia de Manuel Alegre. Mas também Nuno Guimarães deixou a sua marca muito próxima do torrencial temático do Movimento das Trovas e Baladas, através de temas gravados na voz de António Bernardino e de Mário Soares da Veiga. E o próprio Bernardino, no balanço final dos anos 60, deixou-nos um LP que não pode ser esquecido em qualquer narrativa que se faça sobre a Canção de Coimbra daquele tempo — o disco «Flores para Coimbra».
Todavia, não é possível falar da Canção de Coimbra dos anos 60, sem se elaborar uma retrospectiva do que ela era na década de 50. É que, nos finais desta década, as movimentações daqueles que partiam e chegavam, acabaram por criar a vaga de fundo que haveria de sustentar — para além da renovação da linha mais tradicional desta Canção — os alicerces daquilo a que se veio a denominar de Canto de Intervenção ou Movimento das Trovas e Baladas e que marcou presença ao lado do Movimento Associativo e Estudantil da Academia de Coimbra durante a década de 60. Neste capítulo, é de lembrar que foram três os anos de crise académica que ocorreram no seio da Academia de Coimbra durante a década de sessenta: 1962, 1965 e 1969. No entanto, à semelhança da Canção de Coimbra, não é possível falar do Movimento Associativo e Estudantil de sessenta sem recuarmos no tempo. Com efeito, vários foram os acontecimentos que contribuíram para uma progressiva consciencialização associativa, política e social dos estudantes da Universidade de Coimbra. Sem recuarmos demasiado, foi assim nos anos 40, nomeadamente em 1941, com a luta contra o «decreto das propinas», e, também, em 1947-48, no decurso da elaboração e aprovação dos Novos Estatutos da AAC, quando as alterações introduzidas pelo Governo levaram a que a Academia se insurgisse, mostrando bem clara a divisão entre esquerda e direita; e foi assim, na década de 50, com a contestação ao Decreto-Lei 40.900, publicado no Diário do Governo, em 12 de Dezembro de 1956, através do qual o governo procurou controlar a liberdade associativa dos estudantes portugueses".
Jorge Cravo
Jorge Cravo entrevistado por Névia Vitorino
durante o espectáculo que assinalou o lançamento do livro
durante o espectáculo que assinalou o lançamento do livro
Mais no Guitarras de Coimbra, aqui e aqui
Sem comentários:
Enviar um comentário