"Não sei quando comecei a adoecer. Se calhar desde o dia em que nasci, por ser essa a idade em que todos começamos a morrer. Nós sabemos isso; não nos damos conta porque só a morte dos outros é que é verdade. Mas lembro-me do momento em que me disseram que estava realmente doente. Foi ao início de uma tarde de sol, coado por entre a folhagem das árvores de um dia morno de fim de Primavera, e a minha alma ficou gelada. A partir de então, como sucede agora, acontece questionar-me com frequência sobre a vida, que vejo como um regato frio a correr murmúrios por entre as pedras já gastas pelo caudal de correntes passadas, onde as janelas da casa que me viu nascer já não sabem quem sou".
(fragmento de um de trinta e nove textos, escritos na sequência de outros tantos tratamentos de radioterapia, a que o autor se submeteu nos Hospitais da Universidade de Coimbra)
Carlos Manuel Santos Assunção Rodrigues nasceu em Coimbra em 1941. É licenciado em História e mestre em Ciências da Educação. Foi professor do Ensino Secundário e do Ensino Superior. Tem trabalho desenvolvido nas áreas da Formação de Professores e da História da Educação em Portugal, com especial incidência no período do Estado Novo. Ultimamente tem feito incursões no campo da História das Mentalidades, com comunicações acerca das "Atitudes do Homem perante a morte". Publicou, em parceria, manuais de História para os 7.º, 8.º e 9.º anos, "Formar Hoje Educar Amanhã" e "Formação Contínua de Professores".
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