quinta-feira, maio 01, 2008

Violência familiar perturba a dignidade das pessoas

Isabel de Carvalho Garcia, João Maria André, Madalena Alarcão e João Redondo


“Violência familiar e Saúde Mental” foi o tema da terceira sessão do ciclo “A Mente: saúde e bem-estar” organizado pela Edições MinervaCoimbra, Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Mental (SPESM) e Serviço de Violência Familiar do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, no âmbito das Terças-Feiras de Minerva.

Comentada pelo professor universitário João Maria André, e com a participação do psiquiatra João Redondo e da psicóloga Madalena Alarcão, a sessão decorreu, mais uma vez, com uma intensa participação do público presente que, no final, proporcionou um aceso debate sobre o tema em causa.

Na sua intervenção, a primeira da noite, João Redondo começou por recordar o conceito de violência que engloba todas as formas de abuso crónico, ou seja, uma série de comportamentos que por acção ou omissão provocam dano físico ou psicológico à outra parte. Na maioria dos casos a figura do agressor é masculina, nomeadamente no caso da violência familiar.

Recorde-se que até meados do século XX o mundo foi essencialmente construído no masculino, e só em 1993, no âmbito da Conferência Mundial dos Direitos Humanos, realizara pela ONU em Viena, Áustria, se reconheceram oficialmente todos os direitos das mulheres como direitos humanos.

A violência familiar e a saúde mental estão, no caso da mulher, muitas vezes, directamente relacionadas. “Além de continuar a arcar com o fardo das responsabilidades de ser, simultaneamente, esposa, mãe, educadora e prestadora de cuidados e a ter uma participação cada vez mais essencial no trabalho, papéis não raras vezes em conflito, a mulher enfrenta uma significativa discriminação sexual, excesso de trabalho e violência doméstica e sexual”. Não admira, pois, que as mulheres tenham maior probabilidade que os homens de receber prescrição de psicotrópicos.

Mas a violência familiar pode atingir, além da mulher, também crianças, adolescentes e idosos. De acordo com o psiquiatra, director do Serviço de Violência Familiar do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra (Hospital Sobral Cid), “a violência doméstica, desqualificando e desconfirmando o outro, atinge a integridade do corpo, a liberdade de expressão, o direito à propriedade e perturba a dignidade das pessoas”.

Madalena Alarcão, docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, manifestou aos presentes algumas das suas preocupações relativamente à violência, começando desde logo pelas palavras vítima e agressor. Porque vítima, a palavra, é feminina e agressor é masculina, o que imediatamente empurra para a ideia de que as vítimas são mulheres e os agressores são homens. “O que prende a mulher a este conceito de vitimização, algo que não é agradável para a mulher e poderá vir a ser desqualificante para o homem”.

Para a psicóloga a violência não deixa de ser uma construção social. “Não quero com isto dizer que a violência é uma invenção, mas aquilo que nós pontuamos como violência, efectivamente, depende do contexto sócio-histórico-cultural do momento”. E se por um lado, durante anos se subvalorizou aquilo que se pode considerar comportamentos de violência, “hoje em dia, não sei se às vezes não corremos o risco de sobrevalorizar” esses mesmos comportamentos.

As sessões do ciclo “A Mente: saúde e bem-estar” têm lugar sempre às 21h30, na Livraria Minerva, em Coimbra, sendo a próxima, a decorrer no dia 13 de Maio, dedicada ao tema “Promoção da Saúde Mental: uma perspectiva desenvolvimental”, com as participações da pedopsiquiatra Beatriz Pena e do psicólogo Rui Paixão.

O ciclo termina no dia 27 de Maio com uma sessão intitulada “Saúde Mental: estratégias para a educação e sensibilização do público” que contará com as presenças de Fernando Almeida (médico de Saúde Pública), Hélder Lourenço (enfermeiro) e de Adriano Vaz Serra (psiquiatra).

Todas as sessões são comentadas por João Maria André (professor de Filosofia e encenador).






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