sábado, maio 17, 2008

Obra analisa figura mítica de Jasão na literatura alemã


Com apresentação de Maria Teresa Cortez, as Edições MinervaCoimbra e o Centro Interuniversitário de Estudos Germanísticos (CIEG), com direcção de Maria Teresa Mingocho, foi lançada a obra “Uma identidade em (des)construção. A figura de Jasão no Romance Medea. Stimmen de Christa Wolf e no Drama Manhattan Medea de Dea Loher”, de Maria Ângela Moreira Limas, o 13.º título da Colecção Minerva-CIEG, dirigida por Maria Manuela Gouveia Delille.

A figura mitológica de Jasão, líder dos Argonautas, é no imaginário colectivo associada a imagens de bravura e heroicidade e a uma masculinidade viril e dominadora. Tomando o texto canónico euripidiano como ponto de partida, o estudo de Maria Ângela Moreira Limas que compõe esta obra propõe uma análise comparativa da forma como o protagonista masculino é apresentado no romance “Medea. Stimmen” (Medeia. Vozes) de Christa Wolf (1996) e no drama “Manhattan Medea” (A Medeia de Manhattan) de Dea Loher (1999), com particular incidência na problemática do gender e no modo como as obras em apreço concorrem para a consolidação ou para a desconstrução da imagem heróica tradicional.

“De entre os mitos clássicos, o de Medeia foi um dos mais revisitados na literatura ao longo dos séculos”, recordou Maria Teresa Cortez durante a sessão. “A incondicional Medeia que, por amor de Jasão, assassina todos os que se interpõem à fortuna do amado, a incondicional Medeia que, repudiada por Jasão na Cólquida, assassina os filhos de ambos, apagando o rasto da história de amor malograda e deixando o Argonauta em desespero, inspirou escritores, pintores, escultores e foi a ‘estrela’ em peças de teatro, librettos de ópera e filmes”.

Segundo a apresentadora, docente da Universidade de Aveiro, Maria Ângela Moreira Limas faz neste seu livro “um estudo comparativo interessantíssimo da figura de Jasão” nos dois textos literários que compara. São textos escritos por duas autoras de gerações diferentes e com perfis muito diferentes.

Christa Wolf, recorda Maria Teresa Cortez, é “um dos nomes mais celebrados da literatura vinda a lume na RDA” e escreveu a sua Medeia já depois da unificação da Alemanha. Apesar de esta sua obra já ter sido analisada por diversos autores, foi-o sempre do ponto de vista da Medeia, “tendo o Jasão ficado bem mais na sombra”. Diferentemente, acrescenta a apresentadora, Maria Ângela Moreira Limas “centra-se na reconfiguração de Jasão, o heróis da Argonáutica, e dá assim um novo contributo ao estudo do romance de Wolf”.

Quanto à segunda obra analisada, “Manhattan Medea”, de Dea Loher — escritora premiada, entre outros, com o Prémio Bertolt Brecht em 2006 —, teve ainda pouca atenção por parte dos especialistas em literatura. Sobre “Manhattan Medea” “foram apenas escritos uns raros e breves artigos, pelo que o capítulo de quase 100 páginas que a autora dedica a este drama é, sem margem para dúvidas, o estudo mais aprofundado até hoje publicado sobre esta recriação do mito de Medeia”, afirma Maria Teresa Cortez.

Também Maria Manuela Gouveia Delille e Maria Teresa Mingocho elogiaram o trabalho agora editado, deixando à autora o desafio da sua tradução para alemão e, simultaneamente, do aprofundamento do tema num futuro trabalho.

“Uma identidade em (des)construção. A figura de Jasão no Romance Medea. Stimmen de Christa Wolf e no Drama Manhattan Medea de Dea Loher” integra-se no projecto de investigação “Desconstrução e (Re)Construção de Figuras e Motivos Tradicionais e/ou Míticos na Literatura de Expressão Alemã do Século XX”, coordenado por Maria Manuela Gouveia Delille, no CIEG. É, segundo a autora, uma versão levemente refundida da dissertação de mestrado apresentada à FLUC em Agosto de 2007.

Maria Ângela Moreira Limas é professora do 9.º Grupo da Escola Básica do 2.º e 3.º Ciclos Bento Carqueja, em Oliveira de Azeméis, e é investigadora do CIEG.









Porto atribui honoris causa a Maria Manuela Delille


A Faculdade de Letras da Universidade do Porto atribuiu a Maria Manuela Gouveia Delille o grau de Doutora honoris causa, numa cerimónia que decorreu no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto no dia 15 de Maio.

Maria Manuela Gouveia Delille, actualmente professora catedrática jubilada, exerceu actividade docente na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra durante mais de quatro décadas, entre 1963 e 2006. Durante esse período desenvolveu uma fecunda actividade pedagógica e científica e levou a cabo um intenso trabalho de divulgação da germanística portuguesa a nível nacional e internacional.

Para além do seu trabalho na FLUC — que incluiu a leccionação em cursos de licenciatura e de mestrado, a orientação de inúmeras teses de doutoramento e de mestrado, a direcção do Instituto de Estudos Alemães, a presidência da Comissão Científica do Grupo de Estudos Germanísticos e a coordenação do Programa Erasmus também no GEG —Maria Manuela Gouveia Delille desenvolveu ainda múltiplas e diversificadas actividades no âmbito da germanística.

Destacam-se a orientação científica e pedagógica dos grupos de Estudos Germanísticos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1982-1987) e da Universidade de Aveiro (1988-1993), a fundação da Associação Portuguesa de Estudos Germanísticos (1994), de que foi a primeira presidente, a direcção da revista Runa (1991-1996) e a criação do Centro Interuniversitário de Estudos Germanísticos (1994), de que foi coordenadora científica até à jubilação.

A sua vasta obra publicada tem como principal área de investigação as relações literárias e culturais luso-alemãs, com especial incidência nos estudos de recepção. O seu elevado mérito científico foi reconhecido também pela germanística internacional e valeu-lhe, entre outras distinções, a atribuição, em 2004, do Prémio Jacob und Wilhelm Grimm pelo DAAD [Serviço Alemão de Intercâmbio Académico].

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