sexta-feira, maio 30, 2008

Estigma afecta todas as relações sociais

Isabel de Carvalho Garcia, João Maria André, Hélder Lourenço,
Adriano Vaz Serra e Fernando Almeida



O ciclo “A Mente: saúde e bem-estar” organizado pela Edições MinervaCoimbra, Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Mental (SPESM) e Serviço de Violência Familiar do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, no âmbito das Terças-Feiras de Minerva, encerrou com chave de ouro.

Com uma sessão intitulada “Saúde Mental: estratégias para a educação e sensibilização do público”, o ciclo fechou com as presenças de Fernando Almeida (médico de Saúde Pública), Hélder Lourenço (enfermeiro) e de Adriano Vaz Serra (psiquiatra) e com os habituais comentários de João Maria André (professor de Filosofia e encenador).

Começando por recordar que “há um número muito grande de pessoas que tem uma má Saúde Mental”, Adriano Vaz Serra, director da Clínica Psiquiátrica dos HUC, salientou alguns dados oficiais da Organização Mundial de Saúde que referem que “as perturbações mentais correspondem a 8,1 por cento da carga mundial de morbilidade”. Uma carga “maior do que aquela que se encontra em todos os tipos de cancro” e que “aumenta para um número substancialmente maior, de 45 por cento, se forem consideradas as perturbações do comportamento associadas ao abuso de substâncias, à violência e ao suicídio”.

Mas não é só a incapacidade que acompanha as doenças mentais. Também o estigma “é um atributo negativo poderoso em todas as relações sociais”. Estigma que, enunciou ou especialista, dá origem a “vergonha, acusação, segregação, isolamento, exclusão social, criação de estereótipos e discriminação”.

Também Fernando Almeida, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, recordou que “os estereótipos, os preconceitos e a discriminação privam as pessoas com doenças mentais de terem acesso às oportunidades de vida, essenciais para alcançar os seus objectivos, principalmente os que se relacionam com a obtenção de um emprego competitivo e de uma vida independente e segura numa habitação própria. A discriminação está presente no trabalho, na educação, nos cuidados médicos, na habitação, nos alojamentos públicos e até mesmo na prestação de serviços de saúde mental”.

Fernando Almeida salientou uma pesquisa recente onde se refere que “existe uma forte correlação entre os sentimentos de medo revelados e o nível de distância social do público em relação à doença mental, devido à raridade dos contactos”. Daí que, acrescentou, se defenda “que a abordagem à mudança social implica intensificar a familiaridade do público com as pessoas com experiência de doença mental e dessa forma combater o estigma e a discriminação”.

E recorrendo a uma lista de indivíduos famosos como Florbela Espanca, Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa, Victor Hugo, Edgar Allan Poe, Peter Tchaikovsky, Sting, Kurt Cobain, Ernest Hemingway, Van Gogh, Axel Rose, Peter Gabriel, Ted Turner, Jim Carey ou Francis Ford Coppola, Fernando Almeida recordou que todos são pessoas com um trabalho reconhecido mas que têm em comum o facto de terem sofrido, ou sofrerem, de doença mental.

O enfermeiro Hélder Lourenço deu conta da experiência de Viseu, na qual se integra, e em que os técnicos de Saúde fazem psicoeducação no meio, aos utentes e respectivos cuidadores, apoiando em situações de crise, com visita domiciliárias não programadas, consultas ou internamentos em tempo útil.

Segundo afirmou, “a atenção baseada na comunidade tem melhor efeito sobre o resultado e a qualidade da vida das pessoas com transtornos mentais crónicos do que o tratamento institucional” e “os serviços de Saúde Mental devem ser prestados na comunidade”, fazendo uso de todos os recursos disponíveis. “Os grandes hospitais psiquiátricos de tipo carcerário devem ser substituídos por serviços de atenção na comunidade, apoiados por leitos psiquiátricos em hospitais gerais e atenção domiciliar que atenda a todas as necessidades dos doentes que eram de responsabilidade daqueles hospitais”, concluiu.










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