quarta-feira, abril 09, 2008
Serviços de Saúde Mental devem ter proximidade com serviços de Saúde gerais
Os problemas mentais já não dizem respeito apenas a um número reduzido de pessoas — que há algumas décadas eram quase compulsivamente internadas em grandes instituições —, mas sim a toda a população de uma forma geral.
Isto mesmo realçou o psiquiatra António Leuschner durante a primeira sessão do ciclo "A Mente: saúde e bem estar", que a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Mental, o Serviço de Violência Familiar do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra e as Edições MinervaCoimbra estão a promover no âmbito das Terças-Feiras de Minerva.
Para o presidente do Conselho de Administração do Hospital Magalhães de Lemos, do Porto, desde que em 1948 a Organização Mundial da Saúde definiu Saúde como um estado completo de bem estar físico, mental e social, que se tornou claro que a Saúde Mental é uma das suas componentes fundamentais. Desde logo "porque inclui o sentido da percepção da qualidade de vida e da Saúde das pessoas".
António Leuschner distinguiu, no entanto, "Saúde Mental positiva — entendida como a saúde mental universal — de Saúde Mental negativa — entendida como as perturbações mentais", e referiu que "é nesta dualidade que devemos aperceber-nos de como é que os serviços de Saúde se devem ajustar para dar resposta a estas necessidades".
De acordo com o psiquiatra, "a maior parte das pessoas que tem algum tipo de perturbações — como ansiedade ou tristeza —, que causam algum sofrimento, ultrapassam-nas naturalmente. O problema surge quando tal não sucede". Para António Leuschner, "a esmagadora maioria das situações não são as que exigem respostas mais especializadas, mas aquelas que estão no meio de todos nós", e por isso, essas respostas, "têm que ter a maior proximidade possível". Segundo defendeu, "a resposta ideal deve ser considerada em paralelo com as respostas aos problemas de Saúde em geral" e "os serviços de Saúde Mental devem ter proximidade com serviços de Saúde gerais".
Por sua vez, o psiquiatra Álvaro Carvalho, ex-director dos Serviços de Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde, recordou que em 1990 as três principais causas de incapacidade para a actividade produtiva na população activa eram as infecções respiratórias, diarreias e situações perinatais. A depressão major, que conduz muitas vezes ao suicídio, surgia em 4.º lugar, enquanto a perturbação bipolar, a esquizofrenia, a perturbação obsessivo-compulsiva, as perturbações de pânico e o stresse pós-traumático estavam abaixo do 20.º lugar.
No entanto, e de acordo com estudos realizados por vários especialistas, para 2020 prevê-se que depressão major esteja em 2.º lugar e todas as outras patologias da área da saúde mental subam também no ranking das causas de incapacidade na população activa.
De acordo com dados internacionais, entre as 10 principais causas de incapacidade entre os 15 e os 44 anos surgem, nas mulheres, a depressão major e a esquizofrenia, nos dois primeiros lugares, e a perturbação bipolar e perturbação obsessivo-compulsiva logo abaixo. Já nos homens a depressão surge em 3.º e a esquizofrenia em 5.º lugar, enquanto a perturbação bipolar aparece em 9.º lugar.
"Se as políticas dos governos se fizessem em função destes dados, provavelmente as prioridades seriam outras", afirmou o especialista. Segundo dados de um outro estudo inglês, revelados também por Álvaro Carvalho, na comunidade haverá, por ano, entre 25 a 30 por cento de pessoas com um qualquer problema de Saúde Mental. Entre estes, 22 por cento têm consciência desses problemas e recorrem ao médico de família, onde apenas 10 por cento da problemática é reconhecida e tratada. Finalmente, destes 10 por cento, apenas quatro por cento necessitam de cuidados de Saúde diferenciados psiquiátricos e apenas 0,5 necessita de internamento.
Estes dados de evidência científica permitem saber quantos profissionais são necessários e em que tipo de serviços de Saúde se devem localizar para melhor responderem às necessidades de Saúde Mental da população.
A sessão foi comentada por João Maria André, professor de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e encenador, que estará presente ao longo de todo o ciclo que visa proporcionar um envolvimento mais informado da comunidade, das famílias e do cidadão nesta problemática da Saúde Mental.
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