sábado, abril 19, 2008

Exclusão, solidão e Saúde Mental em debate na MinervaCoimbra

Isabel de Carvalho Garcia, João Maria André, Fidalgo de Freitas e Luísa Magalhães


O psiquiatra Fidalgo de Freitas, de Viseu, e a assistente social Luísa Magalhães, de Setúbal, foram os convidados da segunda sessão do ciclo “A Mente: saúde e bem-estar” organizado pela Edições MinervaCoimbra, Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Mental (SPESM) e Serviço de Violência Familiar do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, no âmbito das Terças-Feiras de Minerva.

Sobre o tema “Exclusão, solidão e Saúde Mental”, Fidalgo de Freitas começou por afirmar que “exclusão leva, logicamente, à solidão, pelo menos na Saúde Mental”. Mas, para além disso, “vivemos numa sociedade de múltiplas exclusões no nosso dia a dia”. A sociedade é, afirmou, “cada vez mais padronizada, mais normalizada” e onde todos temos que ter e fazer as mesmas coisas. “Quem não alinhar, é naturalmente excluído”.

E quando começou a surgir uma exclusão que incomodava, criou-se algo a que se chamou instituições, “com uma facilidade enorme”. Instituições que, afirmou Fidalgo de Freitas, “são como um grande tapete para debaixo do qual vamos varrendo, ou excluindo, os nosso insucessos sociais, económicos, afectivos, tudo o que nos incomoda, tudo o que incomoda a nossa consciência pessoal e colectiva”.

Mas esta situação de exclusão é bem mais dramática no que toca à Saúde Mental. Contrariamente ao que se verifica com doenças que já foram motivo de exclusão como a lepra, a tuberculose e a sida, e que hoje são já tratadas em ambulatório num qualquer hospital, os doentes mentais, 200 anos depois de Pinel, mesmo sendo “os únicos que não são reconhecidamente contagiosos” e que, segundo referem múltiplos estudos, “são estatisticamente menos perigosos do que os ditos ‘normais’”, continuam a ser excluídos mesmo ao nível das doenças ditas leves, como as perturbações emocionais, lamentou ainda o presidente da SPESM.

Luísa Magalhães, por seu turno, começou por referir, em relação ao tema, que, por um lado, “a exclusão ultrapassa a dimensão de caso a ser tratado por psiquiatras”, e por outro, potencia a associação “doença mental, doente mental, estigmatização, marginalização, solidão, exclusão” ou ainda “exclusão, situação de excluído, mal estar social, pessoa em sofrimento, doença mental”. Duas abordagens ao tema que não são opostas, mas que se complementam.

Se o ser humano realiza a sua condição na relação com os outros e só assim se pode constituir e definir como sujeito e como pessoa, a verdade é que a realidade está muito afastada deste ideal a que aspiramos. “As exclusões existem e presentificam-se no nosso quotidiano, se as quisermos ver”, afirmou a assistente social.

Tomando como exemplo a exclusão do mundo do trabalho, Luísa Magalhães recordou que esta leva a outras exclusões, “pois que reduzindo ou anulando os rendimentos, deixa-se os desempregados sem acesso a habitação, alimentação, educação dos filhos, cuidados de saúde ou actividades culturais, entre outros”.

O mesmo acontece com a exclusão pela pobreza, sendo que esta pode existir mesmo quando se tem emprego. O ser excluído da tomada de decisões sobre a própria cidade ou país, o ser excluído de uma verdadeira informação, bem como as exclusões por raça, religião e sexo, e as exclusões relacionadas com as doenças, estigmatizantes, foram outras das questões abordadas por Luísa Magalhães durante a sua intervenção.

A sessão, que contou com o apoio especial da Lilly Portugal, foi comentada por João Maria André, professor universitário e encenador, e fortemente participada pelo público presente que, no final, proporcionou um animado debate com os palestrantes.

Com esta iniciativa, os organizadores pretendem contribuir para um envolvimento mais informado da comunidade, das famílias e do cidadão, mas também para o despertar da consciência do público e dos profissionais para o real ónus das perturbações mentais e dos seus custos em termos humanos, sociais e económicos. Ajudar a derrubar as barreiras associadas ao estigma e à descriminação associadas a estas problemáticas é outro dos objectivos deste ciclo que decorrerá até Maio.

A próxima sessão realiza-se a 29 de Abril e nela será discutida a “Violência familiar e Saúde Mental”, com as contribuições de João Redondo (psiquiatra) e de Madalena Alarcão (psicóloga), ambos de Coimbra.













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