João Aguiar foi o convidado especial para a sessão mensal do Chá com Lágrimas, desta vez sob o tema "Chá com Inês". O escritor, autor do livro "Inês de Portugal" (1997) falou desta obra que nasceu fruto do guião cinematográfico que João Aguiar escreveu para o filme com o mesmo nome.
Com o livro, referiu, "tentei aproximar-me tanto quanto possível dos factos históricos". Daí que o romance não inclua os episódios lendários associados a Inês de Castro, como a coroação post-mortem em Alcobaça, entre outros. "Tentei simultaneamente, embora só os leitores o possam confirmar, dar ao livro uma certa atmosfera poética", admitiu ainda João Aguiar. "Inês de Portugal" é, pois, fruto destas duas opções: a exactidão histórica possível e o ambiente poético.
No entanto, e tal como confessou, a figura central do livro é D. Pedro. E há uma razão para essa opção. À parte o facto de ele ser a figura mais interessante em todo o drama histórico, a verdade é que também há muita coisa sobre D. Pedro e nada sobre Inês de Castro. "O fascínio de Inês é, em parte, devido a nós não sabermos como ela era, quem ela era", afirmou, já que não existe sequer nenhuma representação iconográfica.
Quem tornou sublime a figura de Inês de Castro foram os poetas e foram os escritores. Para o povo, na altura e durante muitos séculos, Inês de Castro não era de todo amada, tendo mesmo uma péssima reputação no reino. Inês representou efectivamente um perigo político para o reino, sobretudo por causa da família, e os seus filhos representavam, também eles, um perigo para a dinastia.
"Nós não sabemos sequer se ela gostava de D. Pedro", salientou ainda João Aguiar. "Sabemos sim que ele gostava muito dela". E esse é também um dos pontos que se destacam na obra "Inês de Portugal": a vitória do amor perante a morte.
José Machado Lopes leu depois dois poemas de Paulino Mota Tavares, inspirados na figura de Inês de Castro.
A sessão teve também música renascentista interpretada por Leonor Melo, Nuno Mendes e João Barros, elementos da Academia Ad Libitum.
No final, houve ainda espaço para um acesso debate em torno da figura de Inês de Castro.
Recorde-se que o “Chá com lágrimas” é a mais recente criação da Fundação Inês de Castro, em parceria com as Edições MinervaCoimbra e o Hotel Quinta das Lágrimas, e tem por objectivo relembrar a ambiência das velhas tertúlias coimbrãs, razão que explica o espaço dado ao diálogo artístico e cultural, num clima da maior informalidade.
A iniciativa, sempre subordinada a um tema, conta com o apoio da Empresa Municipal de Turismo de Coimbra.
A próxima sessão será a 14 de Fevereiro, Dia dos Namorados, com o tema “Chá com afectos”. Dado o espaço limitado, é necessária uma inscrição que poderá ser feita na recepção do hotel ou por telefone, através do 239 802380.
A voz de Inês
Serás ainda Coimbra
Coimbra pintada de nada
de ócios de fado e restos de lusa.
Coimbra literária perdia e nua
sobre o penedo
onde se inscreve uma torre cansada
inútil
como o segredo que se espalha
na água do rio preso quieto adormecido.
Que é feito de ti ócidade
velha e gasta em inesperados poentes
de olhar melancólico e perdido
ao sabor de crónicas sem tempo
e sem idade.
Terra geradora de futuros e revoluções
mas que nunca agarra nem possui
o verso e a utopia
que a guitarra anunciou no tempo longo.
Levemente te repetem
te repintam o corpo
esquina a esquina pranto a pranto
uma pedra um silêncio
uma sobra de cada vez.
Falta-te apenas a alma
o grito que se ergue em Camões
o poema em sangue
o canto a voz de Inês.
Paulino Mota Tavares
Flor do verde ramo
Inês, Inês linda,
Inês de Castro formosa e firme,
Inês de Portugal ainda.
Teu fado
há-de ser canto e sangue
do meu povo só
e abandonado.
Mas há-de haver um tempo novo
de ser e navegar
doces lábios de Inês,
cabelos,
olhos sábios para amar,
laranjais de esperança
que vão ficando a arder sobre o desejo.
Amor amando
gravado
no chão da História, no beijo
e na pedra escrita
da memória de Alcobaça.
Tempo do tempo que passa
e não morre.
Pedro assim o disse e assim o quis
pois em ti se resume
Inês de mágoa, Inês de lume,
longo o mar
e a dor do meu país.
Paulino Mota Tavares
Serás ainda Coimbra
Coimbra pintada de nada
de ócios de fado e restos de lusa.
Coimbra literária perdia e nua
sobre o penedo
onde se inscreve uma torre cansada
inútil
como o segredo que se espalha
na água do rio preso quieto adormecido.
Que é feito de ti ócidade
velha e gasta em inesperados poentes
de olhar melancólico e perdido
ao sabor de crónicas sem tempo
e sem idade.
Terra geradora de futuros e revoluções
mas que nunca agarra nem possui
o verso e a utopia
que a guitarra anunciou no tempo longo.
Levemente te repetem
te repintam o corpo
esquina a esquina pranto a pranto
uma pedra um silêncio
uma sobra de cada vez.
Falta-te apenas a alma
o grito que se ergue em Camões
o poema em sangue
o canto a voz de Inês.
Paulino Mota Tavares
Flor do verde ramo
Inês, Inês linda,
Inês de Castro formosa e firme,
Inês de Portugal ainda.
Teu fado
há-de ser canto e sangue
do meu povo só
e abandonado.
Mas há-de haver um tempo novo
de ser e navegar
doces lábios de Inês,
cabelos,
olhos sábios para amar,
laranjais de esperança
que vão ficando a arder sobre o desejo.
Amor amando
gravado
no chão da História, no beijo
e na pedra escrita
da memória de Alcobaça.
Tempo do tempo que passa
e não morre.
Pedro assim o disse e assim o quis
pois em ti se resume
Inês de mágoa, Inês de lume,
longo o mar
e a dor do meu país.
Paulino Mota Tavares
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