quinta-feira, abril 05, 2007

Os Jornalistas Portugueses


Este livro centra a sua atenção na relação entre os problemas do acesso ao jornalismo e as transformações tecnológicas e económicas que incidem, de forma penetrante, nas práticas e perfis profissionais dos jornalistas portugueses, com ênfase particular desde os anos 1990. O período estudado reporta-se a essa altura e até aos nossos dias. A principal hipótese explorada pela autora é a de que se tem assistido, neste intervalo, a modificações de grande alcance, quer na concepção e práticas do jornalismo, quer no contexto mais próximo em que o seu exercício profissional se actualiza.

A hipótese avançada tem subjacente a ideia de que o jornalismo está situado e condicionado, de uma forma nevrálgica, nas enormes mudanças que as sociedades contemporâneas têm vindo a conhecer, como produto do dinamismo técnico-económico e da orientação globalizante neoliberal. A autora refere-se à conjugação dos movimentos de inovação tecnológica com as realidades da esfera comercial, numa fase em que o mercado é imposto como único mecanismo de regulação da economia.

Como se processa a entrada na profissão de jornalista em Portugal? Obedece a algum modelo? Existem critérios universais de qualificação? Verifica-se algum padrão de atributos necessários ao exercício do ofício e que tenham relevância para a entrada na profissão? O enquadramento legal é respeitado? Qual o papel da escolaridade no ingresso e exercício da profissão? E o do estágio? Qual a relação entre as orientações empresariais para a entrada na profissão e as situações de precariedade? Até que ponto a presença – ou ausência – de uma delimitação precisa e reconhecida do que é ser jornalista, contribui – ou não – para a própria independência do jornalismo? Para onde apontam, a este respeito, os principais dilemas que envolvem a profissão, no actual quadro de mutação tecnológica e de aguda competição empresarial?

Sara Meireles Graça tenta obter respostas às interrogações formuladas, a partir da observação sociológica de diversas fontes: dados provenientes da última inquirição nacional realizada aos jornalistas portugueses , elementos estatísticos do Sindicato de Jornalistas e da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, artigos e pequenos estudos que têm vindo a ser produzidos nesta área, assim como análises feitas noutros países europeus com problemas que apresentam algum grau de similitude com o caso português.



Enquadrado por uma perspectiva crítica, este livro de Sara Meireles Graça examina algumas das principais linhas de força da realidade dos mass media que têm estado, desde os anos 1980 e sempre com maior intensidade, a concorrer para a obsolescência dos ideais do jornalismo como actividade profissional orientada por uma intenção cultural e cívica.

Ancorando-se no estudo sociológico dos jornalistas portugueses, um âmbito que a autora explora com conhecimento e detalhe, esta investigação ilumina os problemas relativos à quase ausência de especificidade das formas de ingresso no jornalismo profissional, sem descuidar a correspondência deste problema com as dinâmicas de concentração económica, a conexão com outros sectores ou negócios e as transformações tecnológicas de largo espectro que constrangem radicalmente a estrutura informativa e comunicacional nas últimas duas décadas. No interior deste panorama, os jornalistas deparam-se crescentemente com sérias dificuldades para escapar aos embaraços e coacções da rentabilidade mediática.

José Luís Garcia
Investigador do Instituto de Ciências Sociais
da Universidade de Lisboa



SARA MEIRELES GRAÇA nasceu em Guimarães a 20 de Setembro de 1974. Vive actualmente em Coimbra.

Obteve a Licenciatura em Comunicação Social pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra (ESEC-IPC) em 1999. É Mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) desde 2003.

Foi jornalista profissional entre 1996 e 2000 em publicações diárias (Público, As Beiras, 24 horas).

É docente da área de Ciências da Comunicação, das Organizações e dos Media na ESEC desde 1999, onde tem leccionado diversas disciplinas na Licenciatura em Comunicação Social, entre as quais Direito e Deontologia da Comunicação Social, Géneros Jornalísticos, Discurso dos Media e Sociologia da Comunicação. Tem sido responsável pela colocação e acompanhamento dos estágios curriculares em Imprensa desta Instituição.

Realiza o doutoramento em Ciências Sociais, variante de Sociologia, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL).

Interessa-se pelo estudo das transformações no jornalismo e nos jornalistas no novo ambiente económico e tecnológico da indústria dos media. Tem ainda colaborado no ICS-UL na realização de eventos na área científica de Ciência, Tecnologia e Sociedade, sob orientação de Hermínio Martins e José Luís Garcia.

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