quinta-feira, outubro 05, 2006

A Canção de Coimbra na candidatura da Universidade a Património Mundial


A Livraria Minerva em conjunto com o Rotary Club de Coimbra Santa Clara promoveram a segunda sessão do ciclo “Coimbra – Uma candidatura a Património mundial”, desta feita com a presença de Jorge Cravo que abordou o tema “A inclusão da Canção de Coimbra como bem imaterial da candidatura da Universidade de Coimbra a património Mundial”.





Da autoria de Jorge Cravo, aqui deixamos um resumo da comunicação que provocou, no final, um período de debate com a participação de elementos do público.


A inclusão da Canção de Coimbra no património imaterial da Candidatura da Universidade, exige a concretização de alguns objectivos que permitam documentar e fundamentar esta Canção como bem intangível incluso no imaginário vivencial do estudante, e assim, testemunho sonoro da vertente imaterial desta candidatura.

1. Elaboração de uma memória histórica sobre a sua génese, evolução e imaginário que assuma e identifique um conjunto de manifestações tradicionais reveladoras da sua identidade face à cidade e, particularmente, em relação à Universidade. Esta memória descritiva deverá ser acompanhada por um álbum iconográfico.

2. Elaboração de um documento biodiscográfico de estudantes cultores/referência ao longo das épocas, como paradigma identitário desta cultura-tradição musical, regional e local, de Coimbra.





Mas não só do passado é feita esta Canção. Um outro objectivo é, quanto a mim, o mais importante e a razão de ser da inclusão da Canção de Coimbra nesta Candidatura, pois tem a ver com o futuro desta música.

3. Concretização de um plano de revitalização da Canção de Coimbra que consagre, não só, as suas formas tradicionais de divulgação (algumas que caíram em desuso e outras que se encontram em risco de desaparecimento), assim como um conjunto de medidas e de acções que consigam perspectivar o futuro desta Canção num processo dinâmico e moderno, apontando as linhas gerais de um novo imaginar deste Cantar. Ou seja: um plano que faça da Canção de Coimbra um produto cultural a divulgar como “marca” da cidade e da Universidade.


É possível que a maioria das pessoas veja, como objectivo último da inclusão da CdeC na Candidatura da Universidade, a sua consagração como património da UNESCO e nada mais. Isto é: apenas e só o reconhecimento do seu passado. Mas não é isso que se pretende. Devemos falar do passado o necessário (e só o necessário), o presente não interessa e devemos pensar o futuro.

Aliás, a própria UNESCO estipula que tem de existir um plano de acção para a protecção e revitalização da expressão cultural em questão, enquanto género musical tradicional É que uma Candidatura é aprovada se existir um projecto de preservação, recuperação e divulgação do bem candidato. Não basta apresentá-lo e dizer que ele existe. É preciso actuar sobre ele.




O Plano de Revitalização compreende dois quadros de acção:

1º Quadro – Identidade Cultural e Autenticidade Acções que visam reforçar a Canção de Coimbra como cultura musical específica da região centro e da cidade de Coimbra, com uma identidade cultural própria que garanta a sua autenticidade e autonomia etno-musical em relação a outros géneros musicais e a definam como produto/marca registada.

2º Quadro – Divulgação Acções de divulgação da Canção de Coimbra, preservando a sua originalidade e o seu imaginário, mas criando-se uma imagem de produto actual e sempre renovável para uma sua crescente aceitação pelo mercado global e para que seja vista como arte apetecível por parte dos agentes da Indústria Cultural e Discográfica deste País.

A concretização deste Plano implica dinheiro. E na Canção de Coimbra é preciso mesmo muito dinheiro face aos fraquíssimos apoios que ela até hoje teve porque nunca foi levada muito a sério.



Se não for assumida pela Reitoria da Universidade de Coimbra e pela Câmara Municipal um compromisso financeiro inequívoco e bem claro de apoio efectivo à Canção de Coimbra (seja com o recurso ao mecenato, a linhas de financiamento próprias, à Banca, aos fundos comunitários, etc), não vale a pena imaginar a Canção de Coimbra que se quer nem fazer cumprir todo o Plano de revitalização do Bem...

Será que a Canção de Coimbra não tem valor que justifique um bom investimento?

Jorge Cravo


A terceira sessão do ciclo “Coimbra – Uma candidatura a Património mundial” realiza-se no próximo dia 17 de Outubro, pelas 21h30, na Livraria Minerva (Rua de Macau, 52 - Bairro Norton de Matos).

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