domingo, abril 09, 2006

Vivência do provedor em livro

«A geração da ética», da autoria de Fernando Martins, foi lançado na Fnac do Norteshopping. A cerimónia, que contou com a presença de alguns jornalistas, serviu para abordar alguns dos problemas do jornalismo. A apresentação do livro ficou a cargo de José Leite Pereira.


Rui Almeida

O lançamento do livro «A geração da ética», da autoria de Fernando Martins, com a chancela das Edições Minerva Coimbra, decorreu, anteontem, em ambiente descontraído, no café da Fnac do Norteshopping.
A apresentação da obra esteve a cargo de José Leite Pereira, director do Jornal de Notícias. O director aproveitou a oportunidade para falar do jornalismo e dos problemas que hoje se colocam à profissão. O sensacionalismo é, na opinião de José Leite Pereira, um dos problemas com que os jornais se deparam. Contudo, o director defendeu que o jornal que dirige é um “jornal popular de qualidade”, ou seja, “trata de qualquer matéria, mas sem aproveitamento das emoções”, definiu.
O risco de um jornalismo justiceiro foi o segundo problema abordado pelo responsável do JN. No entanto, considerou “preponderante” a acção dos provedores dos leitores na denúncia desse risco.
Por fim, José Leite Pereira considerou as fontes anónimas “um mal necessário”. No entanto, o director salientou que “não podem ser a única forma de fazer notícias”. Até porque, no seu entender, “a correcção de um erro nunca corrige o mal que ficou para trás”.

Três anos em livro
«A geração da ética» foi fruto dos três anos em que Fernando Martins exerceu a função de provedor do leitor no Jornal de Notícias. Durante a apresentação da obra, Fernando Martins sublinhou que, enquanto provedor do leitor, sempre tentou “alertar a consciência” dos seus colegas para a “palavra tornada pública”. A qual, no seu entender, é uma “arma poderosíssima” que, por vezes, é utilizada com “enorme leviandade”. O jornalista comparou a função de provedor à do “grilo falante do pinóquio”. O ex-provedor sublinhou, ainda, a inexistência, hoje, nas redacções, de uma “faixa intermédia” para zelar pelo “respeito das normas deontológicas”. Esta necessidade, segundo Fernando Martins, prende-se, também, com o facto de os “editores estarem mais preocupados com o grafismo” do que em “lerem as notícias”.

Conversa de café
A cerimónia contou com a presença de alguns jornalistas. Em resposta a Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, Fernando Martins considerou não ter sentido “nenhum constrangimento” pelo facto de ter assumido o cargo de provedor após abandonar a direcção do JN. Auscultar o conselho de redacção, segundo Fernando Martins, “enriqueceu” as crónicas que escreveu enquanto provedor.
Outra das presenças, Nassalete Miranda, directora de O PRIMEIRO DE JANEIRO, manifestou o apreço pelo facto de o lançamento de um livro se ter transformado em tertúlia. E enalteceu, ainda, a capacidade de Fernando Martins de não fazer da ética, apenas, uma “figura de retórica”.

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Discussão
Jornalistas na ordem
A apresentação serviu como pretexto para a discussão de alguns dos problemas do jornalismo actual. Fernando Martins defendeu a criação de uma ordem dos jornalistas. “Zelar pelas questões deontológicas”, numa altura em que “exercício da profissão se alterou”, foi o argumento apontado pelo autor do livro.
Pelo contrário, Alfredo Maia manifestou-se contra essa ideia, porque a entrada na ordem é obrigatória. E acrescentou: “A mim arrepia-me fazer qualquer coisa por obrigação”.
Em declarações a O PRIMEIRO DE JANEIRO, Fernando Martins considerou que a “democracia, através da liberdade de imprensa, começa a estar ameaçada”, perante a concentração que se vive, hoje, ao nível dos meios de comunicação social.


O Primeiro de Janeiro

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