sexta-feira, dezembro 02, 2005

O papel da rádio no combate político nos anos 60

Assinalando a comemoração dos 80 anos da Rádio em Portugal, a Livraria Minerva promoveu mais uma sessão das Terças-Feiras de Minerva, subordinada ao tema “O papel da rádio no combate político nos anos 60”.
O debate contou com as contribuições de Isabel Vargues, Sansão Coelho, Francisco Amaral, Sílvio Santos, António Bondoso e Dina Cristo – autora do livro "A Rádio em Portugal e o Declínio de Salazar e Caetano 1958-74", recentemente editado pela MinervaCoimbra. Mas também com as presenças, entre a assistência, de Dinis Manuel Alves, Jorge Castilho e Américo Santos, todos ex-profissionais de rádio.














Para António Bondoso, é inegável o papel da rádio no combate político da década de 60. No entanto, mesmo apesar de a influência ter sido muita, Bondoso considera que não terá sido a mais importante. “Houve outras influências, que passaram pela emigração e pela guerra colonial”, afirmou.
Por parte da Emissora Nacional, recordou juntamente com Sansão Coelho, “o controle era muito rígido”, havendo mesmo censura às faixas musicais através do “lápis amarelo”.
Também Isabel Vargues recordou que a rádio nasceu no Estado Novo e, portanto, sujeita à censura. A historiadora recordou ainda Igrejas Caeiro e Matos Maia, “dois grandes homens da rádio, cuja história está hoje a ser feita”. Isto apesar da “grande dificuldade em manter a história da rádio”. Isabel Vargues deixou, aliás, o desafio para que seja feita uma história da rádio em Portugal, iniciativa que, sugeriu, poderá ser efectuada em conjunto pelas várias instituições académicas que leccionem cursos de comunicação.














Dina Cristo salientou “o deserto em termos de bibliografia radiofónica” em Portugal, facto que sentiu quando preparou a tese que deu origem ao livro recentemente editado. “A rádio é um oceano de memória que está por estudar em Portugal”, afirmou, “e cujo contributo nunca foi reconhecido”.
Em relação à década de 60, recordou, “houve um aproveitamento mútuo da rádio, quer pelo regime contra os opositores, quer pela oposição contra o regime”, o que provocou sempre “uma desunião em relação aquilo que deveria ser a rádio em Portugal”.














Como exemplo da tentativa de controle da rádio pelo regime, Sansão Coelho recordou os emissores fantasma que existiam apenas para “empastelar” a recepção de rádios como a Rádio Portugal Livre, ou a Rádio Voz da Liberdade. “Nesses emissores eram colocadas bobines a velocidade desalinhada, o que fazia com que a frequência daquelas rádios fosse inaudível”.
Francisco Amaral realçou a importância do surgimento do FM nos anos 60, com o Rádio Clube Português, o que “veio alterar profundamente a estética da rádio e também trazer a abertura a outras músicas que não eram escutadas na onda média”. O ex-radialista recordou programas como o “Em órbita”, onde foram lidos “muitos textos que formaram a maneira de pensar da elite que veio a concretizar a mudança na década de 70”.














Quanto a Sílvio Santos, profissional da Antena 1 e autor de um estudo recente sobre recepção de rádio na zona centro, lamentou que hoje a rádio já não assuma o papel central que tinha na década em debate, referindo que os jovens actualmente preferem as rádios play list. Sílvio Santos mostrou-se preocupado sobre qual o papel que a rádio terá hoje em termos de formação cívica e política, nomeadamente nessas camadas mais jovens. “Custa-me encarar a rádio como sendo uma coisa ligeira”, concluiu.

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